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  • Foto do escritorRafaela Maciel

A Mulher Rei e a força feminina

Longa protagonizado por Viola Davis conta a história de Nanisca e Nawi, duas poderosas guerreiras agojie, do reino de Daomé, na África de 1823.


Créditos de imagem: Sony Pictures (Reprodução)

Dirigido por Gina Prince-Bythewood ('A Vida Secreta das Abelhas', 'Nos Bastidores da Fama'), o filme 'A Mulher Rei' retrata a história de Nanisca (Viola Davis), general do poderoso exército de mulheres guerreiras Agojie, ou “as amazonas africanas”, um exército formado por mulheres virgens, que deram sua vida para defender seu reino e sua liberdade.


Nawi, uma guerreira em treinamento, foi deixada no palácio por seu pai adotivo, que não conseguiu fazer com que ela aceitasse um casamento violento com um homem mais velho e rico.


'A Mulher Rei' arrecadou quase 100 milhões de dólares nas bilheterias mundiais e conquistou a indicação para melhor atriz de drama no Globo de Ouro para Viola Davis.


Créditos de imagem: Sony Pictures (Divulgação)

A história



Nawi é uma filha adotiva, com pais

extremamente duros. A garota, de 19 anos, precisou trabalhar a vida toda, sem espaço para diversão. Seu pai tenta vendê-la para homens mais velhos e ricos, dando-a como esposa. No entanto, Nawi não aceita ser violentada e ataca todos os homens que vêm atrás dela. Uma das primeiras cenas é da futura guerreira levando um tapa do pretendente e derrubando-o em seguida.

 

Seu pai fica aborrecido e decide deixar a filha no palácio, dando-a como tributo ao rei. Lá, ela passa a integrar as Agojie, treinando com elas para se tornar uma guerreira completa. É no palácio que ela conhece Izogie e Nanisca. Izogie passa a cuidar de Nawi, ensinando as técnicas de batalha e tentando aconselhar a menina, que é extremamente rebelde.

 

Nawi se destaca como uma das melhores aprendizes, mas peca em sempre atacar sua general Nanisca, alegando que se comporta assim para ser notada. No entanto, suas ações são vistas como insubordinação e arrogância.


Créditos de imagem: Sony Pictures (Reprodução)

Mesmo assim, Nawi vence a competição entre as aprendizes, conquista a honra de ser a melhor entre as alunas e passa a integrar completamente o exército feminino de Daomé.


O reino de Daomé está em guerra com seus vizinhos, principalmente com Oyó. Ambos os reinos fazem cativos em suas batalhas e vendem as pessoas para os europeus, contribuindo para o tráfico negreiro. Nanisca não concorda com essa prática e propõe para seu rei, Ghezo, que parem de vender pessoas, mesmo que de outras nações, e invistam no comércio de azeite. Essa decisão afeta uma das setes esposas do rei, que, mimada, não gosta de mudanças e não quer ser vista como rainha de uma nação de fazendeiros.


Créditos de imagem: Sony Pictures (Reprodução)

No meio da guerra, Nanisca esconde um segredo terrível: quando foi dada como morta, na realidade havia sido sequestrada pelo reino de Oyó, estuprada todos os dias por seus inimigos e, quando escapara, matando quase todos os seus algozes, estava grávida de um de seus abusadores. Mas, mulheres Agojies não podem formar família, o que a leva a se esconder pelos 9 meses de gestação e, ao dar à luz uma filha, pede para sua leal amiga, Amenza, doar a criança, sem nunca contar a ela seu paradeiro.


Antes de entregar a bebê recém-nascida, Nanisca fura o braço da criança e esconde no furo um dente de tubarão de seu colar, para que, se algum dia encontrasse a menina, pudesse reconhecê-la.


Feito isso, a valente general, que foi a responsável por colocar o atual rei Ghezo no trono, volta para seu exército e guarda segredo sobre sua filha, fruto da violência que ela passou. Essa filha retorna para ela de maneira inesperada, tornando-se uma guerreira Agojie formidável e petulante: Nawi. O segredo é revelado quando a general descobre que a garota é adotada e que possui uma cicatriz no exato lugar em que ela furou seu bebê.


Quando ela corta a menina novamente, do corte sai o dente de tubarão que ela escondeu 19 anos antes.

 

Nawi acaba capturada em uma batalha, junto com Izogie e a general Nanisca, contra as regras do rei, vai em busca de sua filha. No caminho, ela encontra novamente seu algoz, o único que sobreviveu de sua vingança no dia que se libertou, anos atrás. A cena é emocionante. Nanisca libera todas as pessoas capturadas para serem vendidas e queima toda a estrutura dos escravagistas, conseguindo, enfim, matar seu estuprador.


Realidade ou ficção?


Apesar das personagens Nanisca, Izogie e Nawi serem ficcionais, a história das Agojie é real! As mulheres guerreiras defenderam o reino de Daomé, na África — hoje atual Benim —, durante os séculos XVII e XIX.


Durante o ano de 1840, o exército das temíveis guerreiras tinha alcançado o contingente de 6 mil mulheres. Especialistas em táticas noturnas, elas invadiam aldeias inimigas, faziam prisioneiros e usavam suas cabeças como troféus de guerra.



Com o comércio escravista em crescimento na África, os homens foram perdendo poderio militar, o que possibilitou a entrada das mulheres na guerra. O rei Ghezo é uma figura real da História e é conhecido por ter reinado durante a era de ouro de Daomé, período em que o reino cresceu financeiramente e culturalmente. As guerreiras foram seu principal alicerce, diferente dos homens, que podiam ter suas próprias famílias, as mulheres viviam apenas pela guerra.


Entre as guerreiras, além de voluntárias, existiam recrutas forçadas, meninas pobres e rebeldes, enviadas pelos pais para o rei. Infelizmente, mesmo com todo o poder que as “amazonas africanas” conquistaram, elas ainda eram sujeitas às leis machistas e culturais da sociedade patriarcal em que viviam. As mulheres eram consideradas como as esposas de terceira classe do rei, logo, não podiam ser olhadas por outros homens do reino ou tocadas. Mesmo assim, dificilmente compartilhavam a cama do rei e não geravam filhos.

 

O treinamento das guerreiras era duro. Entre suas práticas, estava a firmeza no derramamento de sangue. Há um relato atribuído ao oficial da marinha francesa Jean Bayol que afirma que assistiu uma recruta ainda adolescente passar pelo teste para incorporar o exército das Agojie, essa menina teria decapitado um prisioneiro de guerra e, diz o relato, bebido o sangue da espada. O depoimento, no entanto, pode não ser 100% verídico, lembrando que o olho do europeu na época era para demonizar qualquer prática africana, buscando uma validação religiosa para escravidão.


A força das mulheres de Daomé causava estranheza nos europeus invasores, que atribuíram a elas todos os nomes pejorativos que puderam e disseminaram histórias assustadoras sobre as “amazonas africanas”, já que sua especialidade era surpreender o inimigo e ganhar as batalhas com velocidade.


Com o fim do tratado dos franceses com o reino de Daomé, uma guerra se iniciou entre os dois. As Agojie lutaram bravamente, mas sofreram perdas significativas, principalmente no ano de 1892, quando apenas 17 mulheres, de uma força de mais de 400, retornaram com vida do combate. Ao todo, as mulheres lutaram 23 batalhas contra os franceses, sendo conhecidas pela ferocidade e força.


Créditos de imagem: Sony Pictures (Reprodução)

Os franceses fizeram o possível para sufocar as Agojie, proibindo que qualquer mulher voltasse a ganhar qualquer força no reino de Daomé. Para eles, mulheres guerreiras eram um atentado à civilização moderna. Mais uma vez o patriarcado sufocava a força feminina.

 

Apesar das personagens Nanisca e Nawi serem invenções ficcionais, seus nomes são reais. A guerreira que o francês relatou que passou ferozmente em seu teste se chamava Nanisca. Nawi foi a última Agojie sobrevivente de que se tem conhecimento, falecendo em 1979, com quase 100 anos.

 

Mesmo com o sufocamento da história das guerreiras pelo poderio francês, as tradições Agojie permaneceram e, até hoje, os feitos das mulheres são contados. As Agojie são símbolos de força e resistência feminina.

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