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  • Foto do escritorHellica Miranda

Agatha Christie, A Dama do Crime

Nesta sexta (15), celebra-se os 133 anos do nascimento de Agatha Christie, "a dama do crime".



Vida e obra


Agatha Mary Clarissa Christie, anteriormente Agatha Miller, nasceu em 15 de setembro de 1890, na cidade de Torquay, localizada às margens do Canal da Mancha, no Reino Unido. Ela era a filha mais nova de um pai que frequentemente viajava a trabalho e de uma mãe tímida, mas cuja influência teve um grande impacto na personalidade de Agatha.


Agatha descreveu sua infância como "muito feliz", mas aos 11 anos tudo mudou quando seu pai faleceu de pneumonia e doença renal crônica. Como a caçula da família, ela continuou a morar com sua mãe na propriedade da família em Ashfield até ser enviada para o internato Miss Guyer's Girls' School em Torquay. No entanto, Agatha não se adaptou às rígidas regras de disciplina do lugar.


Mais tarde, Agatha estudou em Paris, onde se destacou na música como cantora e pianista. Foi durante esse período que ela conheceu seu futuro marido, o coronel Archibald Christie, com quem se casou em 1914. Durante a Primeira Guerra Mundial, Archibald serviu como piloto no Corpo Real de Aviadores, enquanto Agatha trabalhava em um hospital e em uma farmácia, onde adquiriu conhecimentos que mais tarde seriam incorporados em sua escrita. Os venenos se tornaram um elemento recorrente nas tramas de seus livros, e em 2020, a química Kathryn Harkup publicou um livro chamado "Dicionário Agatha Christie de Venenos", analisando algumas das substâncias utilizadas pela autora em suas histórias.


Créditos de imagem: Darkside Books.

De acordo com o Guinness Book, Agatha Christie conquistou um lugar na história como a romancista mais bem-sucedida da literatura popular, tendo vendido mais de 4 bilhões de cópias de seus livros entre os séculos XX e XXI. Essa impressionante marca a coloca à frente de renomados autores como William Shakespeare e até mesmo das vendas da Bíblia.


Um dos maiores destaques em sua carreira é o romance policial "E Não Sobrou Nenhum", publicado em 1939. Agatha descreveu esse livro como o mais desafiador de escrever, mas ele se tornou o romance policial mais vendido da história, com mais de 100 milhões de cópias vendidas em todo o mundo.



O polêmico desaparecimento



Em abril de 1926, a mãe de Agatha, Clarissa Miller, com quem ela tinha uma relação próxima, faleceu. Essa perda afetou profundamente a autora, levando-a a entrar em depressão e se isolar. Na mídia, foi divulgado que Agatha estava se recuperando de uma exaustão causada pelo trabalho no sudoeste da França.


Em agosto, o marido de Agatha, Archibald Christie, pediu o divórcio, alegando estar apaixonado por outra mulher, Nancy Neele, uma jovem na época.


No dia 3 de dezembro, ainda não divorciados, Archibald informou a Agatha que viajaria para Godalming, uma cidade histórica no sudeste da Inglaterra, acompanhado de Nancy e amigos. Naquela mesma noite, Agatha desapareceu de casa. Relatos posteriores indicaram que ela saiu com uma pequena mala antes das 22h.


Na manhã seguinte, o carro de Agatha Christie, um Morris Crowley, foi encontrado em um barranco perto de um rio na reserva natural de Newlands Corner, a cerca de uma hora de sua casa em Styles, nome dado em homenagem ao seu primeiro livro. O local ficava a menos de 15 minutos da cidade onde Archibald estava com Nancy.


Os faróis do carro estavam acesos e dentro dele havia um casaco de pele, sua mala intacta e seus documentos, o que aumentou ainda mais a atenção da mídia e alimentou o desejo do público por uma história real de mistério e escândalo.


Uma recompensa de 100 libras (equivalente a cerca de 723 reais nos valores atuais) foi oferecida por informações verdadeiras sobre o paradeiro da autora, e mais de 15 mil pessoas se mobilizaram para procurá-la na região. Foi a primeira vez que aviões foram utilizados na busca por uma pessoa desaparecida na Inglaterra.


Sir Arthur Conan Doyle, famoso criador do detetive Sherlock Holmes, deu a uma médium uma luva que pertencia a Agatha e recebeu como resposta que a dona da luva estava viva. O desaparecimento de Agatha chegou a ser manchete do jornal The New York Times.


Créditos de imagem: The New York Times

Após 11 dias de busca, a polícia recebeu uma denúncia de que Agatha estava no Swan Hidropathic Hotel, a cerca de 4 horas de distância do local onde seu carro foi encontrado abandonado.


No hotel, ela estava hospedada sob o nome de "Teresa Neele", o mesmo sobrenome da amante de seu marido. Agatha afirmou ser natural da Cidade do Cabo, na África do Sul, e estava no spa para se recuperar do luto pela morte de seu filho.


Um músico reconheceu Agatha no local e, ao chamá-la de "Senhora Christie", ela respondeu, mas afirmou sofrer de amnésia.


Depois de ser encontrada, Agatha Christie deixou o spa e foi para a casa de sua irmã em Cheadle, onde permaneceu reclusa e inacessível. Enquanto isso, as histórias e teorias sobre seu "desaparecimento" só aumentavam. Alguns especularam que ela tentou forjar seu próprio assassinato para incriminar o marido perante o público. Outros acreditavam que tudo era uma estratégia de marketing para promover seu último livro, "O Assassinato de Roger Ackroyd". Também houve especulações sobre a possibilidade de Agatha ter perdido a sanidade ou sofrido um acidente de carro que resultou em perda de memória.


A biógrafa Janet Morgan atribuiu o incidente a um episódio de fuga psicogênica, um transtorno psicológico no qual a pessoa pode vivenciar períodos de amnésia, geralmente causados por trauma, e viajar para lugares desconhecidos, confundindo sua própria identidade e até criando uma nova durante a crise.


Por outro lado, outra biógrafa, Laura Thompson, acredita que tudo ocorreu durante um colapso nervoso e que Agatha estava consciente de suas ações, mas incapaz de controlar suas emoções.



Nova vida


Em outubro de 1928, o divórcio entre Agatha e Archibald foi finalizado, após Agatha ter formalmente solicitado o divórcio em abril do mesmo ano. Menos de uma semana depois, Archibald se casou com Nancy Neele.


Agatha ficou com a guarda de sua única filha, Rosalind, e decidiu manter o sobrenome Christie, principalmente por motivos artísticos.

No mesmo ano, Agatha Christie embarcou em uma viagem para o Oriente Médio e, durante sua estadia no Iraque, desenvolveu uma amizade próxima com o renomado arqueólogo Leonard Woolley e sua esposa Katharine. Eles a convidaram para se juntar a eles em suas escavações em Ur, convite que Agatha aceitou no ano seguinte.


Foi lá, durante suas experiências em Ur, que Agatha conheceu Max Mallowan, um arqueólogo especializado na história do antigo Oriente Médio. Eles se apaixonaram e se casaram logo em seguida.


Embora Agatha ainda fosse conhecida pelo sobrenome de seu ex-marido publicamente, as pessoas próximas a ela a conheceram pelo sobrenome Mallowan pelo resto de sua vida.


Agatha e Max viajaram pelo mundo juntos e ela registrou algumas de suas experiências em seu livro "Desenterrando o Passado", lançado no Brasil em 1986 pela editora Nova Fronteira.


Em 1934, aos 43 anos, Agatha Christie estava no auge de sua carreira com o lançamento de "Assassinato no Expresso Oriente", uma de suas obras mais famosas. A história foi adaptada múltiplas vezes e em diversos formatos ao longo do tempo. Houve uma radionovela de 5 capítulos transmitida pela BBC Radio 4 em 1992, uma versão soviética em 1966 e uma nova adaptação transmitida pelo Audible, plataforma de streaming, em 2017. No cinema, a primeira adaptação ocorreu em 1974, estrelada por Albert Finney como Poirot, e a segunda em 2017, com Kenneth Branagh dirigindo e interpretando o detetive Hercule Poirot.


Outras adaptações para televisão incluem um episódio da série alemã "Die Galerie der großen Detektive" em 1955, um filme televisivo pela CBS nos Estados Unidos em 2001 e a série "Agatha Christie's Poirot" em 2010, que retratou 70 episódios baseados nos livros e contos de Agatha. Em 2015, uma adaptação foi feita no Japão pela Fuji Television, transmitida durante duas noites, mas com a história ambientada no Japão.


"Assassinato no Expresso Oriente" também foi adaptado para peças de teatro, um jogo de tabuleiro em 1985 e um jogo de computador em 2006.


Em 1938, Agatha adquiriu a propriedade conhecida como Greenway Estate, que ela descreveu como "o lugar mais adorável do mundo". Era uma mansão em Devon, onde ela desfrutava de uma vida ativa na comunidade e de momentos tranquilos em casa com a família.


Agatha e Max no Greenway Estate, sua mansão em Devon.

Greenway Estate serviu de inspiração para os livros "Os Cinco Porquinhos" (1942), "Hora Zero" (1944) e "A Extravagância do Morto" (1956).


A série "Agatha Christie's Poirot" filmou o episódio "Dead Man's Folly" na propriedade.


A mansão permaneceu ocupada até 2004, quando a filha de Agatha, Rosalind, deixou o local. Em 2010, o Greenway Estate, refúgio de Agatha Christie, tornou-se propriedade permanente do Fundo Nacional para Locais de Interesse Histórico ou Beleza Natural do Reino Unido devido à sua imensa importância histórica e cultural. Após algumas reformas, o local foi aberto para visitação, apresentando relíquias de Agatha e sua família, além de uma loja.


Agatha também passava bastante tempo com seu marido na propriedade conhecida como Abney Hall, pertencente a seu cunhado. Foi lá que ela escreveu "Depois do Funeral" (1953) e "A Aventura do Pudim de Natal" (1960).


Durante a Segunda Guerra Mundial, Agatha Christie trabalhou na farmácia do University College Hospital, onde atualizou seu conhecimento sobre venenos. Essa experiência proporcionou a ela uma base sólida para escrever sobre envenenamento em seus romances. Ela também recebeu sugestões do farmacêutico do UCH que contribuíram para o enredo de um de seus livros.


Além disso, Agatha foi alvo de uma investigação do MI5, o serviço de inteligência britânico, devido a uma narrativa que envolvia um grupo de quinta-coluna. Esses grupos consistiam em indivíduos que agiam secretamente contra seu próprio país em tempos de guerra, em prol do inimigo. A obra despertou o interesse do MI5, mas a investigação não resultou em nenhuma ação significativa contra a autora.


Em reconhecimento às suas notáveis contribuições artísticas, Agatha Christie foi agraciada com o título de Dama Comendadora da Ordem do Império Britânico, em 1971. A Rainha Elizabeth II, que era uma grande admiradora de sua obra, lhe conferiu esse título honorífico.



Falecimento e legado


Agatha Christie, ou Agatha Mallowan, como gostava de ser chamada, faleceu tranquilamente em sua casa em Oxfordshire em janeiro de 1976, aos 85 anos, devido a complicações de pneumonia. Sua casa foi posta à venda por 2,75 milhões de libras.


Seu marido, Max Mallowan, casou-se novamente em 1977, mas faleceu no ano seguinte e foi enterrado ao lado de Agatha.


Quando Agatha faleceu, ela era a autora mais vendida da história e deixou uma herança considerável para seu marido e filha, no valor de quase 6 milhões de libras em dinheiro.


Na década de 1950, Agatha enfrentou problemas com editoras e agências abusivas, levando-a a fundar sua própria empresa, a Agatha Christie Limited, para proteger os direitos de suas obras. Após sua morte, sua família detinha 36% das ações da empresa, com poder de influência no conselho. Sua filha, Rosalind, administrou a empresa até sua morte em 2004.


Agatha e a filha, Rosalind. | Créditos de imagem: Alamy Stock

Atualmente, a família de Agatha detém 36% das ações da Agatha Christie Limited, e seu único neto, Mathew, possui os direitos autorais de algumas de suas obras.


Em 2014, a BBC adquiriu os direitos para produzir adaptações televisivas das obras de Agatha Christie. Desde então, eles produziram várias séries baseadas em seus livros, incluindo "Sócios no Crime", "Não Sobrou Nenhum", "The Witness for the Prosecution", "Punição para a Inocência", "The ABC Murders" e "The Pale Horse".


Agatha Christie tinha preferências pessoais distintas. Ela não gostava de aglomerações e barulho excessivo, evitava consumir álcool e não fumava. Suas atividades favoritas incluíam bordar, desfrutar do sol e do mar durante suas viagens, apreciar esportes, assistir a concertos e peças teatrais.


Embora fosse membro da Igreja Anglicana, Agatha raramente falava sobre sua religião, mas frequentava regularmente os serviços religiosos.


A jardinagem era outra paixão de Agatha, e ela ganhou prêmios locais por suas habilidades nessa área. Ela gostava de ter flores sempre presentes em sua vida.


Agatha também tinha interesse em decoração e mobiliário, e ocasionalmente adquiria itens para suas casas, o que lhe rendeu certa fama de colecionar "coisas estranhas". Além disso, seu casamento com Max Mallowan e suas viagens juntos demonstravam seu interesse pela arqueologia.


Agatha Christie era reconhecida por sua gentileza, amigabilidade e habilidade de manter boas conversas, mesmo sendo uma pessoa tímida. Após sua morte, um fundo de caridade foi estabelecido em sua memória, focado em apoiar idosos e crianças carentes, duas causas pelas quais Agatha sempre demonstrou preocupação.


Seu legado como "dama do crime" continua forte e não mostra sinais de enfraquecimento. Em 2016, o Royal Mail lançou selos em sua homenagem, com detalhes inspirados em suas obras mais famosas. Esses selos apresentavam pistas ocultas, como textos minúsculos, tinta UV e tinta termocrômica, que poderiam ser desvendadas com o uso de lupas, luz UV e calor corporal, revelando soluções para os mistérios.


Agatha Christie e seus personagens também foram representados em selos de outros países, como Dominica, no Caribe, e República Federal da Somália. Em 2020, ela foi celebrada na moeda de 2 libras pelo centenário de seu primeiro livro, 'O Misterioso Caso de Styles'.



A moeda de 2 libras em homenagem à Agatha Christie. | Créditos de imagem: The Royal Mint


Agatha Christie foi retratada em várias produções ao longo dos anos. O filme "Agatha" de 1979, produzido pela Warner Bros., abordou o mistério em torno de seu desaparecimento em 1926, apresentando uma teoria de vingança contra o marido. Embora a família da autora tenha entrado com um processo para impedir a distribuição do filme, ele foi exibido.


Além disso, Agatha foi retratada em outros filmes, como "Agatha Christie: A Life in Pictures" (2004) da BBC, no episódio "O Unicórnio e a Vespa" da série Doctor Who (2008) e no filme "Agatha and the Truth of Murder". A autora continua sendo uma figura icônica e inspiradora, sendo retratada em produções de diferentes países até os dias de hoje.


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