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  • Foto do escritorHellica Miranda e Rafaela Maciel

‘Bonita de Rosto’: autoimagem e autoestima em curta-metragem indaiatubano

Curta-metragem conta a história de Celina, de 12 anos, e sua relação com a própria imagem.



Bonita de Rosto’ é um conto escrito no livro "Costuras para fora", por Ana Squilanti, que também é a produtora do curta-metragem homônimo, filmado na cidade de Indaiatuba, São Paulo. Ambientado nos anos 2000, o filme trata sobre assuntos atuais, como bullying, autoaceitação do corpo, problemas na adolescência e descobertas típicas do período.


História


Celina tem 12 anos e é estudante da escola pública Helena — escola real de Indaiatuba, interior de São Paulo. A menina é alegre, divertida e possui uma melhor amiga inseparável, a Daniela e um primeiro amor, o Renan.

 

Um dia, ela e sua amiga ficam com o famoso caderno de respostas da classe para responder e, entre suas respostas, Celina escreve como foi seu primeiro beijo e diz que, para ela, sua melhor amiga é a mais bonita da classe, e sua colega afirma o mesmo sobre Celina. No dia seguinte, as donas do caderno riem das respostas da menina e dizem a famigerada frase de que Celina é "bonita de rosto".


Celina não é uma pré-adolescente "padrão" e, na saída da infância para adolescência, ainda não tinha tido problemas com sua aparência até aquele momento, quando entendeu que estava acima do peso considerado ideal para os padrões e que as pessoas consideravam apenas seu rosto bonito. Infelizmente, o bullying não cessa nesse momento e, durante os próximos dias, os colegas fazem brincadeiras a toda vez que ela se senta, como se a sala sofresse terremotos por causa de seu peso. Nesse ínterim, seu primeiro amor passa a ignorá-la e até sua melhor amiga dá risada dela.


Créditos de imagem: Bonita de Rosto.

As medidas tomadas por Celina para "se encaixar" nesse tal padrão são drásticas, como as escolhidas por incontáveis pessoas na vida real.


"Nenhuma dieta milagrosa leva à saúde. Elas podem resolver o problema no momento, porém não educam. O indivíduo volta logo ao peso anterior ou, mesmo se mantiver o peso, não mantém a qualidade da alimentação", disse a professora da Universidade de Araraquara (Uniara) Rita de Cássia Garcia Pereira, nutricionista, em entrevista ao G1.


A história de 'Bonita de Rosto' trata com sensibilidade e delicadeza o tema do sobrepeso, explica sobre a necessidade de um exemplo para ter aceitação de si mesma, de como o bullying pode ser prejudicial em níveis imensuráveis e chega, também, a chamar atenção à falta de atenção dos adultos responsáveis para os problemas das crianças e de como a fase da adolescência pode ser traumática sem acompanhamento.


O curta


Créditos de imagem: Bonita de Rosto.

O curta foi ambientado nos anos 2000, então há toda uma preocupação com a estética visual, a falta de celulares é um elemento notável, que causa estranheza no primeiro momento, afinal o comum é ter adolescentes com as telas na mão e não sem elas.

 

Além disso, telefones de modelos antigos, listas telefônicas, roupas coloridas, o uso de All-Star em massa, elásticos de cabelos grandes, coloridos e com pompons, cadernos personalizados e até mesmo a cultura da criança ir e vir sozinha da escola, sobretudo numa cidade "pequena", ajuda na visão lúdica de duas décadas atrás.

 

Celina é uma menina fora do padrão, muito bonita, alegre, divertida, que usa tênis coloridos, aparelhos, tem uma melhor amiga e está experimentando as alegrias e tristezas do primeiro amor. Ela é interpretada pela talentosa Bia Capelossi, que falou um pouco sobre sua experiência com o filme para a De Mulher Para o Mundo: "Uma mensagem que o curta traz é que é pra você não ligar muito para os comentários que fazem sobre você!"


Além de Bia, o elenco é composto por diversos atores mirins, entre eles Sofia de Camargo Paulino, que surpreendeu interpretando um menino, o Renan, primeiro amor de Celina. ‘Bonita de Rosto’ também conta com diversas crianças que estudam ou estudaram no colégio Helena em suas vidas reais, como é o caso de Mariana Bonet, a Daniela do filme.


Entre as mensagens do filme, podemos destacar que a aceitação é a principal temática, aceitar seu corpo, quem você é e como é. Também percebemos que é muito comum julgamentos disfarçados de elogios, a frase "Você é bonita de rosto",dá margem para interpretações cruéis, como: só seu rosto é bonito, seu corpo é feio. E isso é uma atitude muito comum e se destaca entre as crianças e adolescentes que ainda estão aprendendo até onde vai o limite da brincadeira e da crueldade.

 

Durante a pré-estreia do curta metragem, perguntamos à autora e diretora do filme, Ana Squilanti, se existia uma conexão entre ela e a Celina, ao que ela respondeu que sim, que a personagem Celina foi inspirada em sua infância e que o problema com o peso, com a estética feminina, é algo que dura a vida toda, a busca pelo "corpo ideal" infelizmente é uma constância e é triste saber que nas mulheres é uma pressão que surge quando são ainda muito jovens.

 

Outra coisa que chama atenção no curta, dessa vez em sua produção, é de que o filme foi pensado, idealizado e produzido em sua maioria por mulheres. Desde a escolha de Renan ser interpretado por uma garota, até a execução de filmagens, figurinos, trilha sonora e roteiro foi realizada por mulheres. Essa interação feminina trouxe um olhar mais sensível para a história, e Ana explica que boa parte da equipe ser composta por mulheres foi proposital, que ela busca colocar cada vez mais inclusão nos seus projetos, o que é muito importante para a sociedade atual.



Efeitos na sociedade


Créditos de imagem: Bonita de Rosto.

O interessante é que essa visão do trabalho feminino também sensibilizou os homens que participaram da produção, desde o pai de Ana, que ajudou sendo o motorista em partes das filmagens, até o Alexandre Turina, membro da equipe, citou: "Eu, como homem, não vejo nenhum problema no homem ser mais sensível (…) Isso é uma coisa mais estrutural da família, quando você tem um papel masculino muito forte e muito machista. E eu não tive isso. Vivenciando com essas mulheres na minha vida, eu aprendi a respeitar muito as mulheres. Então, dentro desse patamar que a gente vive hoje, eu tive, como estava trabalhando na produção, eu sempre respeitei, então, ao invés de denominar alguém por ele ou ela, é ‘como você gostaria de ser chamado?’. É um orgulho trabalhar com todo esse grupo feminino, porque, para mim, as mulheres, em qualquer tipo de mercado, têm um potencial enorme, e são boicotadas sim. É algo que eu, como único representante (masculino) aqui, defendo, potencializo e falo: nós temos que começar a olhar com outros olhos para esse tipo de trabalho".


Alexandre também ressaltou que esse ato vai além: deve-se levar o debate aos amigos e rebater os preconceitos. Ele também ressaltou que, depois da experiência com o filme, como homem, mudou, reconhecendo os erros do passado e as barreiras que ainda deve transpor: "A cada dia eu sou um ser humano melhor, sou um homem melhor. Porque eu me permito ser mais sensível".


Opinião


Créditos de imagem: Bonita de Rosto.

A Celina traz uma sensação de pertencimento. Todo mundo foi ou conheceu uma Celina na infância, se sentiu mal por sua aparência e teve dúvidas sobre si mesma na infância e adolescência. A equipe da De Mulher Para o Mundo que esteve presente na pré-estreia sentiu-se pessoalmente tocada pela história e encantada com a superação da tão jovem Celina.

 

Quando Ana vê Celina e se reconhece nela, é quase como um abraço em nossa criança interior. A frase no espelho "Você é toda bonita" dá a sensação de que tudo vai ficar bem, e de que, assim como ela, finalmente vamos nos encontrar.

 

O filme provavelmente demora a estar disponível para todos assistirem, sendo primeiro apresentado em festivais e escolas, como projeto pedagógico, mas já deixa grandes marcas de sensibilidade e de vitória também.

 

Contemplado pelo Prêmio Estímulo ao Curta-Metragem, do PROAC (Programa de Ação Cultural), o filme 'Bonita de Rosto' foi todo gravado em Indaiatuba, com o objetivo de movimentar a produção audiovisual na cidade.


O fato de ter sido ambientado e gravado na cidade de Indaiatuba também o diferencia, mantendo uma estética mais colorida e calma do interior de São Paulo, o curta garante a pureza do olhar da criança dos anos 2000, a beleza e paz do interior, sendo um feliz acerto escolher gravar o curta na cidade, o diferenciando dos demais do gênero.

 

'Bonita de rosto' é uma história rápida e gostosa de acompanhar. A identificação com a protagonista é rápida e a simpatia por ela também, o curta, por ter um tempo limitado deixa muitas perguntas sem respostas e partes do enredo se perdem, mas responde boa parte dos questionamentos mais importantes: como Celina superou o problema de sua aparência e se ela deixou de se sentir sozinha.

 

Ainda assim, como o próprio público deixou claro querer, seria bastante interessante se houvesse uma segunda parte do filme, respondendo às demais perguntas e nos dando mais uma chance de acompanhar a evolução da personagem. Porque o desafio de ser nunca acaba ali.





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