O legado de Dona Ivone Lara é marcado por sua genialidade musical, sua voz poderosa e sua contribuição incomparável para o patrimônio cultural do Brasil.
Conhecida como a Grande Dama do Samba, a carioca da gema Yvonne Lara da Costa nasceu em 13 de Abril de 1922 e foi a primeira filha de João da Silva Lara e Emerentina Bento da Silva. Desde pequena já estava inserida na música e no samba devido à influência de seus pais, sua mãe cantava em ranchos carnavalescos do Rio de Janeiro, como o Flor de Abacate e o Ameno Resedá, onde João era violinista. Foi criada pelos tios devido à morte dos pais e aprendeu a tocar cavaquinho e ouvir samba.
Aos 16 anos, entrou para a faculdade de enfermagem e aos 21, prestou concurso público para o Ministério da Saúde. Anos depois, foi contratada pelo Instituto de Psiquiatria do Engenho de Dentro e se especializou em terapia ocupacional. Além da Enfermagem, Ivone também se formou em Serviço Social sendo uma das primeiras assistentes sociais do Brasil e uma das primeiras negras a se formarem em um curso superior no país.
Casou-se com Oscar Costa em 1947, com quem teve dois filhos. Durante 28 anos, eles compartilharam suas vidas até a morte de Oscar. No Prazer da Serrinha, Ivone conheceu importantes compositores, como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira, com quem colaborou em composições. Em 2008, enfrentou a perda de seu filho Odir, vítima de complicações relacionadas à diabetes.
A carioca trabalhou junto da médica Nise de Oliveira, profissional que revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil. Com sugestão de Ivone, a dupla passou a aplicar o tratamento com música nos anos 40.
“Foi Dona Ivone quem recomendou à doutora Nise que fosse criada uma sala com instrumentos musicais lá no Hospital do Engenho de Dentro [atual Instituto Municipal Nise da Silveira] para ajudar no tratamento dos pacientes com distúrbios mentais numa época em que pouco se falava em musicoterapia. No Serviço de Doenças Mentais, Nise, Ivone e toda a equipe cuidavam do inconsciente daquelas pessoas”, afirma o jornalista Lucas Nobile.
Após a morte do marido e ao se aposentar do serviço público, a artista se dedicou totalmente à música.
Paixão pela Música
Sua carreira musical decolou na década de 1940, quando começou a compor sambas-enredos para a escola de samba Prazer da Serrinha. Em 1965, compôs um dos seus maiores sucessos, "Sonho Meu", em parceria com Délcio Carvalho, que se tornou um hino do samba brasileiro e foi eternizado na voz de Maria Bethânia e Gal Costa.
Dona Ivone Lara, além de sua carreira musical, também atuou como atriz, participando de especiais do programa "Sítio do Pica-Pau Amarelo" como Tia Nastácia. Em 2008, ela interpretou a canção "Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço" no projeto Samba Social Clube. Essa performance foi tão marcante que a faixa foi incluída em uma coletânea com as melhores performances do projeto no ano seguinte.
A discografia de Dona Ivone Lara é marcada por álbuns que refletem sua maestria no samba e sua contribuição para a música brasileira. Alguns dos seus principais trabalhos deixaram um legado duradouro na música brasileira:
"Samba Minha Verdade, Samba Minha Raiz" (2001) - Este álbum apresenta Dona Ivone Lara interpretando clássicos do samba, além de incluir composições próprias.
"Canto de Rainha" (2004) - Neste disco, Dona Ivone Lara celebra sua posição como uma das grandes damas do samba, apresentando composições que destacam sua voz única e sua habilidade como compositora.
"Sempre a Cantar" (2006) - Este álbum apresenta uma coletânea de músicas de Dona Ivone Lara, incluindo sucessos como "Sonho Meu" e "Alvorecer".
"Nasci para Sonhar e Cantar" (2013) - Neste trabalho, Dona Ivone Lara continua a demonstrar sua maestria no samba, apresentando composições que refletem sua vida e sua carreira na música.
"Bodas de Ouro - Ivone Lara e Delcio Carvalho" (2014) - Este álbum marca os 50 anos de parceria entre Dona Ivone Lara e o compositor Delcio Carvalho, apresentando uma seleção de suas melhores músicas juntos.
Em 2012, Dona Ivone Lara foi homenageada pelo Império Serrano com o enredo "Dona Ivone Lara: O Enredo do Meu Samba". No mesmo ano, foi a homenageada na 21.ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Em dezembro de 2014, foi homenageada na 19.ª edição do Trem do Samba. Dona Ivone também participou das gravações do Sambabook, onde diversos artistas reinterpretaram suas canções, enquanto ela gravou uma canção inédita com Diogo Nogueira. Em 2015, entrou para a lista das "Dez Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio". Além disso, recebeu o “Dama da Ordem do Mérito Cultural” que foi concedido pelo governo brasileiro em 2007, em reconhecimento à sua importância na cultura nacional.
No vídeo abaixo, podemos conferir um pouco do ensaio de Dona Ivone Lara para o Prêmio da Música Brasileira
Empoderamento feminino no samba
Dona Ivone Lara desempenhou um papel significativo no empoderamento feminino, especialmente dentro do contexto do samba, um gênero musical historicamente dominado por homens. Como uma das primeiras mulheres a se destacar no mundo do samba, ela quebrou barreiras e inspirou outras mulheres a seguirem seus sonhos musicais.
Além disso, muitas de suas letras abordam temas relacionados à experiência feminina, como amor, saudade, resistência e autoafirmação. Suas canções transmitiam mensagens poderosas de empoderamento, celebrando a força e a resiliência das mulheres.
Falecimento
Dona Ivone Lara faleceu em decorrência de uma insuficiência respiratória seguida de um quadro de pneumonia. Ela estava internada no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI) da Coordenação de Emergência Regional (CER), no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro. Seu falecimento ocorreu no dia 16 de abril de 2018, aos 97 anos de idade.
A notícia do seu falecimento gerou grande. Dona Ivone Lara foi uma figura emblemática e uma das maiores representantes do samba, deixando um legado cultural significativo para as gerações futuras. Sua morte marcou o fim de uma era na música brasileira, mas seu legado perdurará através de sua música e de sua influência no universo do samba.
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