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Foto do escritorHellica Miranda

Estudo conclui que pessoas não-binárias já existiam na Europa pré-histórica

Um recente estudo concluiu que pessoas não-binárias já existiam na Europa pré-histórica, de acordo com a Revista Galileu.



O estudo revela que a presença de indivíduos com identidades de gênero além do binário não é uma criação moderna, mas remonta a milhares de anos atrás. Pesquisadores analisaram restos mortais e artefatos da época para chegar a essa conclusão. Essa descoberta arqueológica oferece novas perspectivas sobre a diversidade de gênero ao longo da história humana e destaca a importância de reconhecer e respeitar identidades de gênero não-binárias.


O conceito de "não-binário", que descreve indivíduos que não se identificam com os padrões de gênero tradicionais — feminino e masculino — tem sido objeto de debates sobre o uso de linguagem neutra e muitas vezes é considerado como uma ideia moderna. No entanto, um recente estudo revela que a Europa pré-histórica era muito mais diversa em termos de identidades de gênero do que se costumava imaginar, desafiando a visão binária dominante. Essa pesquisa traz à tona a existência de pessoas não-binárias desde tempos antigos e nos faz repensar as noções de gênero ao longo da história.


Dois pesquisadores se dedicaram a examinar como o gênero era representado em sepulturas neolíticas e da Idade do Bronze, abrangendo um período de 5.500 a.C. a 1.200 a.C. Surpreendentemente, suas descobertas revelaram a existência de indivíduos não-binários nesse período histórico. Isso demonstra que pessoas com identidades de gênero além do binário já faziam parte da sociedade naquela época distante. Essa pesquisa arqueológica oferece insights valiosos sobre a diversidade de gênero e a presença de pessoas não-binárias ao longo da história.


Os especialistas publicaram suas conclusões no Cambridge Archaeological Journal no dia 24 de maio. Pesquisadores da Universidade de Göttingen, na Alemanha, revelaram que, na Europa pré-histórica, o papel desempenhado pelas pessoas era determinado principalmente, mas não exclusivamente, pelo seu sexo biológico. A abordagem usual consiste em definir o sexo biológico com base nos ossos encontrados em sepulturas pré-históricas e atribuir o gênero com base nos objetos próximos aos corpos. Por exemplo, armas próximas podem indicar o papel masculino, enquanto joias são associadas às mulheres. No entanto, essa visão simplista pode levar a interpretações equivocadas, destacando a necessidade de uma análise mais abrangente.


Homem enterrado na Finlândia tinha Síndrome de Klinefelter (quando um homem nasce com mais um cromossomo X) trajava vestes femininas, possível sinal de flexibilidade de gênero na sociedade escandinava. | Créditos de imagem: European Journal of Archeology

Os pesquisadores responsáveis pelo novo estudo realizaram uma análise quantitativa comparando os dados de sexo e gênero em mais de mil sepulturas. Esses registros abrangiam restos mortais encontrados em cemitérios neolíticos e da Idade do Bronze na Alemanha, Áustria e Itália, abarcando quase 4 mil anos de história.


Os resultados indicaram que cerca de 10% dos indivíduos não se enquadravam na categorização binária tradicional de gênero. No entanto, foi possível determinar o gênero e o sexo de apenas 30% da população total estudada. A pesquisadora Eleonore Pape, líder do estudo, afirmou em comunicado: "O que esses números nos dizem é que, historicamente, não podemos mais definir pessoas não binárias como exceções a uma regra, mas sim como minorias que poderiam ter sido formalmente reconhecidas, protegidas e até reverenciadas".


"Neste momento, ainda não podemos avaliar o impacto real — não apenas devido às margens de erro dos métodos analíticos [por exemplo, osteologia], mas também de viés de confirmação [o que significa que as pessoas tendem a encontrar o que querem encontrar]", explica o coautor Nicola lalongo.


Os pesquisadores defendem a necessidade de investir em novos métodos que aprimorem nossa compreensão sobre gênero e sexo na pré-história. Eles ressaltam a importância de desenvolver abordagens inovadoras que permitam uma análise mais aprofundada e precisa das identidades de gênero presentes nesse período histórico. Ao investir em métodos mais avançados, poderemos obter insights mais significativos sobre a diversidade de gênero e compreender melhor como as pessoas não-binárias eram percebidas e vivenciavam suas identidades na antiguidade.

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