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  • Foto do escritorLuís Gustavo Camargo

“Gaslighting”: a palavra de 2022

Busca por "gaslighting" aumentou drasticamente em 2022, tendo crescimento de 1.740%



O dicionário estadunidense Merriam-Webster, um dos mais antigos do país, considerou "gaslighting" como a palavra do ano em 2022. Mas se engana quem pensa que o termo é atual.


A primeira aparição veio em dezembro de 1938, na era vitoriana, no formato de uma peça de suspense intitulada "Gas Light" (em português, "À Meia Luz"), escrita por Patrick Hamilton. No Brasil, "Gaslight" teve uma montagem em 1949, no Teatro Brasileiro de Comédia, com direção de Adolfo Celi.


"Nesta era de desinformação, de ‘notícias falsas’, teorias da conspiração, trolls do Twitter e deepfakes, gaslighting surgiu como uma palavra do nosso tempo para resumir mentiras que fazem parte de um plano maior", disse a empresa, justificando a escolha. De acordo com o Merriam-Webster, as buscas pelo termo aumentaram drasticamente, sendo computado um crescimento de 1,740%.


Gas Light, de Patrick Hamilton


Capa da primeira edição da peça Gas Light , impressa em Londres pela Constable and Company, em 1939.

A peça conta a história de um casamento conturbado baseado em mentiras e trapaças e um marido focado em roubar sua esposa. O personagem principal, Jack Manningham, tenta convencer a esposa, Bella, de que ela está ficando louca.


O verbo, em inglês, "gaslighting" vem de uma das situações da peça.


Com duas adaptações para filme, os longas foram aclamados pela crítica, ambos com o nome de 'Gaslight', sendo um filme britânico de 1940 e um filme americano de 1944, também conhecido como "The Murder in Thornton Square".


Com definição traduzida para o português, o termo significa "manipulação psicológica de uma pessoa geralmente durante um longo período de tempo que faz com que a vítima questione a validade de seus próprios pensamentos, percepção da realidade ou memórias e normalmente leva à confusão, perda de confiança e autoestima, incerteza da estabilidade emocional ou mental e uma dependência do perpetrador".


Destaque na Broadway


Em 1941, Vincent Price e Edith Barrett garantiram os direitos da produção na Broadway. No outono do mesmo ano, encontraram um produtor para subscrever o projeto. Porém, Edith retirou-se do projeto para permanecer em Hollywood, com o objetivo de trabalhar em filmes. O nome da peça mudou para "Angel Street" e Judith Evelyn integrou o elenco.


Judith Evelyn e Vincent Price em “Angel Street”, de 1941 | Créditos de imagem: Talbot

Agora com novo nome, a peça estreou no John Golden Theatre em 5 de dezembro de 1941, produzido por Stephard Traube. Dois anos depois, o jornal The New York Times escreveu sobre os desafios enfrentados pela produção: "Em 5 de dezembro, o a peça estreou, em 6 de dezembro as críticas elogiosas enviaram uma longa fila de peregrinos à bilheteria do teatro, em 7 de dezembro a peça foi esquecida sob o impacto do ataque japonês. Angel Street vacilou momentaneamente e depois acelerou o passo, que quase não diminuiu desde então", publicou o jornal.


Adaptação de Jô Soares


Créditos de imagem: Divulgação (Instagram)

Com estreia marcada em setembro de 2022 no Teatro Procópio Ferreira, no centro de São Paulo, "Gaslight – Uma Relação Tóxica" foi a última direção do humorista, dramaturgo, ator e diretor José Eugênio Soares, o brilhante Jô Soares, que faleceu em agosto de 2022.


A peça conta a história de um casal em conflito após o diagnóstico de Bella, que sofre algum tipo de desequilíbrio mental. Ao descobrir a doença, Jack, antes um marido doce e apaixonado, revela-se um homem impaciente e menos cordial com a esposa.


A situação é acompanhada pela governanta Elizabeth, a arrumadeira Nancy e o inspetor de polícia Ralf, que possui uma ligação misteriosa com a casa em que o casal vive. Essa relação pode despertar "fantasmas do passado" que ainda habitam a residência e seus segredos, além de revelar grandes surpresas.


Em sua primeira temporada, a peça contou com Giovani Tozi, Kéfera Buchmann, Érica Montanheiro, Neusa Maria Faro e Leandro Lima no elenco e marcaria a volta do diretor aos palcos. Em sua segunda temporada, com a saída de Leandro Lima e Kéfera Buchmann do elenco, Maria Joana, Gustavo Merighi integraram a trama.


Créditos de imagem: Divulgação (Instagram)

"O Jô costumava dizer que o teatro é um trapézio sem rede. E eu acho bonito isso porque é a maneira como também ele sempre agiu na vida", comentou o ator Giovani Tozi, em entrevista ao G1, sobre Jô Soares. O ator também contou que a ideia da peça nasceu numa noite de cinema no apartamento de Jô, quando os dois assistiam à versão de 1944 e Giovani fez o convite ao dramaturgo para levarem a história aos palcos. 


Consequências psicológicas



Em entrevista à De Mulher Para o Mundo, a psicóloga Aline Nayara Rodrigues Brunherotto conta que é importante perceber mudanças no comportamento e atitudes do companheiro: "É uma forma de violência psicológica na qual estão presente mentiras, humilhações, informações distorcidas, inventadas ou omitidas para favorecer o abusador com o objetivo de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção da realidade e dos fatos, como também da sua sanidade, causando instabilidade emocional", explica.



Segundo ela, o machismo e o patriarcado contribuem para que as mulheres sejam mais afetadas: "Essa questão pode estar relacionada sim, por isso, a importância de estarmos atentos aos sinais para que seja possível definir o que está havendo e tomar as decisões necessárias".



 

 



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