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Glória Maria: pioneira no jornalismo e grande referência para as mulheres

Falecida no último dia 2 de fevereiro, Glória Maria enfrentava o câncer desde 2019. Deixou duas filhas adolescentes e um enorme legado.



Conhecida por seus passaportes carimbados, a jornalista viajou para mais de 100 países, dividindo suas experiências com os telespectadores pelo Fantástico (programa jornalístico da Globo). Além disso, marcou história por ser a primeira repórter a aparecer ao vivo e em cores na televisão na década de 1970.

Glória veio de origem humilde e é considerada uma fonte de inspiração para muitas mulheres, sobretudo as mulheres negras. A jornalista foi a primeira repórter negra da televisão e, além de viajar o globo, entrevistou grandes nomes, como Madonna, Mick Jagger, Freddie Mercury e Michael Jackson.


Créditos de imagem: Rede Globo

A jornalista era conhecida pelo seu estilo aventureiro, bem humorado e disposto. Mesmo em lugares mais perigosos, nos quais a maioria dos jornalistas não se atrevia a ir, Glória, com toda sua coragem, ia. Subia e descia em todas as comunidades, inclusive as que não eram pacificadas.


Mesmo sendo católica, foi lembrada por muitos internautas e amigos pessoais por ter partido no dia em que se celebra a Orixá Iemanjá (cultuada nas religiões de matriz africana, como Umbanda e Candomblé).  


Em uma de suas publicações, a jornalista contou que sua avó paterna Alzira, que morreu aos 104 anos, só não foi escravizada pois nasceu durante a Lei do Ventre Livre e prezava muito por sua liberdade.


Primeiros anos e carreira



Nascida em 15 de agosto de 1949, natural do Rio de Janeiro, Glória sempre foi esforçada nos estudos. Frequentou escolas públicas durante toda sua formação básica, depois estudou na faculdade particular PUC, enquanto conciliava estudos e trabalho. A futura jornalista era filha do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta. Aprendeu inglês, latim e francês.

Aos 16 anos, trabalhou na Companhia Telefônica como telefonista e aos 18 ingressou na faculdade. Foi em 1970, por intermédio de uma amiga, que Glória começou a trabalhar na Rede Globo como estagiária. No mesmo ano, foi efetivada. Foi no ano seguinte, em 1971, que estreou com sua primeira cobertura na televisão, e não demorou muito para que se tornasse âncora do jornal RJTV. Dali em diante, participou de reportagens para o Jornal Hoje e Jornal Nacional.

Em 1986, passou a participar da equipe de reportagens do Fantástico, mas apenas em 1998, Glória começou a fazer as icônicas viagens pelas quais é tão conhecida. Trabalhou no Fantástico durante 10 anos, antes de pedir 2 anos sabáticos e ficar afastada do programa dominical, com o objetivo de que pudesse se dedicar a trabalhos voluntários. Foi durante esse período que visitou a Índia e a Nigéria.


Créditos de imagem: Rede Globo

Durante suas férias, fez uma visita ao OAF (Organização de Auxílio Fraterno) em 2009 e se tornou mãe, adotando, na Bahia, Maria e Laura, que hoje têm 14 e 15 anos, respectivamente. Glória era muito ligada a trabalhos voluntários e estava em uma pausa de sua carreira para se dedicar a causas sociais. A maternidade fez com que ela se mudasse do Rio de Janeiro para a Bahia durante os 11 meses do processo de adoção.

 

"Eu nunca quis ser mãe. O trabalho me preenchia, minha vida era perfeita. Elas surgiram por acaso. Eu nunca tinha pensado em ter filhos até que vi as duas pela primeira vez e tive certeza de que elas eram minhas filhas. Isso é uma coisa que não sei explicar", contou em uma de suas entrevista ao apresentador e filósofo Pedro Bial, de quem era muito amiga.


Glória com as filhas Laura e Maria, em 2021

Com forte influência feminina, Glória se tornou mãe sozinha, cuidando de suas duas filhas. Por ser uma mulher mais madura na época da adoção, foi muito questionada sobre a segurança e futuro das crianças. A jornalista não se abateu, informando ter deixado um futuro planejado para suas filhas, com ótimo ensino e bons padrinhos, que cuidariam delas caso a mãe faltasse.

 

Em 2010, retornou para a Globo, trabalhando como repórter especial do Globo Repórter, e também por lá fez inúmeras viagens. A ideia era mostrar as origens e culturas de lugares diferentes do mundo. Estreou com a reportagem "Brunei Darussalam - A Morada da Paz", que se tratava de um pequeno sultanato no sudeste Asiático.

 

Foi trabalhando para o Globo Repórter que a jornalista visitou o Grand Canyon nos Estados Unidos, a França, mostrando lugares como Vale do Loire, Champagne e Provence. Visitou Dubai, Vietnã, Camboja, Suécia, Lapónia, Marrocos e muitos outros países. Entrevistou o campeão de atletismo Usain Bolt em 2016 na Jamaica. Fez história pulando do maior bungee jump do mundo em Macau.

 

Glória já era jornalista durante o período sombrio da ditadura militar no Brasil e sofreu grande preconceito pelo presidente militar João Baptista Figueiredo. À época, trabalhando para o Jornal Nacional, a repórter precisava lidar com os seguranças do presidente que recebiam as seguinte ordens: "não deixa aquela neguinha chegar perto de mim"

 

Foi em 2019 que Sérgio Chapelin se aposentou e Glória Maria passou a apresentar o programa ao lado de Sandra Annenberg. Ela acabou se afastando do programa por conta de sua saúde.


Créditos de imagem: Rede Globo

Viagens e importância


Glória Maria carimbou 16 passaportes, viajou para mais de 163 países, foi a responsável pela cobertura da posse do presidente Jimmy Carter e da guerra das Malvinas em 1982.


Glória nas Malvinas em 1982 | Créditos de imagem: Rede Globo

 


"Era uma guerra em que se desarmavam minas terrestres. E eu tinha que ir lá ver como era", declarou Glória Maria. "A guerra é uma coisa que me deu muito medo, mas eu não deixei que ela me paralisasse". A jornalista falou sobre a experiência várias vezes, entre elas no programa Roda Viva.


A jornalista visitou a antiga Iugoslávia (que hoje se dividiu em 8 países, entre eles a Croácia e Eslovênia), mas, mesmo conhecendo lugares incríveis, Glória gostava mesmo de conhecer o Brasil. Ela costumava dizer que o país do futebol mudava muito e sempre tinha algo novo e surpreendente para mostrar.


Foi durante sua visita para a Jamaica em 2016 que a jornalista gerou um meme histórico na internet: enquanto participava de um ritual rastafari, protagonizou um momento hilário ao consumir maconha, chamada de ganja no país.

 

Em 2011, foi para Jerusalém apresentar o show de Roberto Carlos e marcou a história quando foi convidada a dançar com ele no palco.


Em 2012, conheceu o Oásis da Paz em Omã. Uma de suas reportagens mais marcantes foi no Marrocos, mostrando a cidade azul, os encantadores de serpentes e a beleza marroquina. Também atravessou o deserto do Saara em um dromedário, acompanhando um grupo de nômades.


Legado




 

Glória Maria era referência na questão de pioneirismo, força feminina e resistência. Sua origem pobre e cor da pele no auge do preconceito racial no Brasil pareciam ser seu combustível para a força. A jornalista inspira milhares de mulheres negras de origem parecida que desejam crescer como Glória.

 

Dona de um patrimônio estimado em 50 milhões de reais (que agora deverá ser dividido entre as filhas quando atingirem a maioridade), a jornalista era conhecida entre seus amigos pelo espírito aventureiro e vaidade: estava até mesmo cadastrada para uma possível viagem à lua pela NASA, o mundo tinha se tornado pequeno para sua alma exploradora. Toda a comunidade artística e jornalística lamentou sua morte, em decorrência do câncer.

 

"Iemanjá levou sua irmã para descansar. Ela, guerreira, que tanto lutou, vai continuar abençoando nossas lutas e vai continuar representando muito mais do que ela mesma. E era isso o que ela sempre foi. Ela sempre foi muito mais do que a Glória Maria pessoa. Ela sempre foi a Glória Maria do Brasil, representando algo muito maior do que ela como indivíduo. E só um corpo muito grande, uma alma muito grande, poderia comportar", disse Pedro Bial para o programa Bom Dia Brasil. Grandes amigos durante décadas, Pedro contou que não pôde visitar sua amiga nos últimos dias, por vontade dela mesma. A jornalista queria ser lembrada por sua força e não aceitou ser vista por muitas pessoas em seu momento mais frágil.

 

Além de Bial, outros artistas e amigos também lamentaram a morte da jornalista:

 

"Em choque com a perda dessa querida amiga. Você é um marco na história do nosso país. Foi muito bom acompanhar seu trabalho, e mais ainda, desfrutar da sua agradável companhia. Sentirei falta de sorrir contigo. Obrigado, Glória. Te amo”, publicou o ator Lázaro Ramos em suas redes sociais.

 

Maria Bethânia também deixou suas condolências: "A Glória da vida. Sentimos muito a perda de uma das maiores repórteres do mundo. Um ícone da TV brasileira. Uma percursora do jornalismo ao vivo na TV. Uma doce pessoa. (…) Que Nossa Senhora a receba nos braços e que conforte suas duas lindas filhas".


A morte de Glória foi lamentada também pelo presidente Lula, pela ministra Anielle Franco e pelo ministro Silvio Almeida. Pela primeira vez desde que o programa foi criado, o Fantástico mudou seu nome para "Fantástica" em homenagem à jornalista.

 

Glória Maria não resistiu ao câncer e faleceu dia 2 de fevereiro de 2023, deixando duas filhas muito amadas, uma legião de amigos e fãs e uma carreira impecável. Conhecida por seu espírito forte e aventureiro, marcou história com suas reportagens em todas as partes do mundo, sua empatia natural e curiosidade. Sendo pioneira e considerada a primeira jornalista negra do Brasil em rede nacional, foi e é inspiração para milhares de mulheres.


 


 

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