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  • Foto do escritorGabriel Barbieri

Homem da Vez: para o Dia das Mulheres

O Dia das Mulheres e o "ser mulher" sob a ótica masculina


Na imagem é possível ver a silhueta de uma mulher amarrando o cabelo

*Gabriel Barbieri foi convidado pela De Mulher Para o mundo para um texto especial de Dia das Mulheres.


A catarse onipresente que rodeia a pena sofredora pela qual é escrita nossa história enquanto espécie volta a pulsar pelas nuances deste capítulo. Ora ou outra, também me esqueço que existem pessoas por trás de teorias. Existiu, ao menos, um ser humano para cada criação, cada descobrimento, cada destruição; Leia, as pautas não erguidas são a escoliose que herdamos dos enterrados. Esse saturnismo que se revira no estômago a cada curva do planeta sairá pela boca mais próxima cedo ou tarde, e é então que nosso similar mais comum notará a diferença entre DNA e identidade. (Veja bem, estamos tratando de identidade em seu plantar, colher, torrar, moer e deglutir; o que, sinceramente, não importa tanto quando vista pronta na prateleira).

Não leva muita leitura, mas sim o mínimo de casualidade carnal para que qualquer caminhante se dê conta de que a identificação é, de fato, o tendão de Aquiles da humanidade. Se já é privilégio se sentir identificado com o próprio reflexo, a tempestade dobra de largura quando olhamos uns para os outros. No entanto, carrego comigo a impressão desastrosa de que as primeiras experiências são mais penosas para com as mulheres; como se, a dieta do mundo tivesse sido de determinada forma até aqui, e então agora a criança enorme torce o nariz para seus novos cuidadores. Afinal de contas, como essas pontes se ergueram? A mulher enquanto

ser, mesmo que não optando por tal desenrolar, tornou-se sinônimo de superação. Aliás, comprovou-se assim, que a não escolha é a mais cruel dentre todas as possíveis escolhas; e que no torcer do pano, a mais sofredora das abelhas é aquela que há de combater o mundo externo e o mundo interno. Pode um ser habitar dois mundos diferentes? Eis a onipresença feminina.

Preso entre a estrutura artesanal, o senso comum e uma espécie de determinismo ontológico, o conceito “mulher” se torna, além de conceito, o mais adjetivado dos substantivos; no qual, na compreensão arcaica, sensibiliza-se por maternidade e convento. Ignóbil verniz anacrônico encrustado no tempo. Seria cortês de minha parte então pregar liberdade aos povos e comunidades, mas o óbvio sempre carrega o inevitável. Tal questionamento é só a pelagem do animal: quando a mulher se descobre como tal? Tema discorrido por autoras e autores que ainda estremece o chão até mesmo dos mais resolvidos. Se se descobrir mulher é um ato de liberdade, esbarramos então na velha anedota erguida por Schopenhauer acerca da liberdade: a real questão acerca da liberdade não diz, de fato, respeito ao fazer, mas ao próprio querer. O

coração da questão é como se relaciona o predicado ‘livre’ e o verbo ‘libertar’. Como me

libertar do que jamais me prendeu? E ainda mais fundo: se jamais me libertei, talvez eu ainda esteja preso. Talvez esteja pensando agora que estou cavando demais, mas é justamente assim que acharemos o esqueleto da pergunta e então, perceberemos que questionar não é mais do que um ato de arqueologia moral.

De fato, o questionamento é uma ferida que se abre e o sangue escorrerá dali por um tempo

que não podemos presumir, e não sejamos enfermeiros da verdade, mas visitantes ao acaso.

As mulheres como sociedade, conceito, gênero e afeto diversificam dentro de seus próprios

compartimentos. São sinônimo de amor e luta incondicional; a biologia, a filosofia e as nuances

anatômicas em seus próprios eixos, do qual carregam com valentia sobre a silhueta. É fácil

perceber que, no momento em que declaramos amor por algo, fadamos tal algo para a

extinção: mas se já estamos inclinados, por que não desmoronar?




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