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  • Foto do escritorHellica Miranda

Maternidade on-line: “A Influencer”

Livro que chegou em 2022 coloca a maternidade sob a perspectiva do mundo sensacionalista e materialista das redes sociais.



Escrito em conjunto pelo casal Collette Lyons e Paul Vlitos sob o pseudônimo de Ellery Lloyd, "A Influencer" chegou ao Brasil na finada assinatura de livros intrínsecos, da editora Intrínseca, em maio passado, não à toa, já que aborda de maneira no mínimo diferenciada a questão da maternidade.


Acompanhamos o casal Emmy e Dan, pais de dois filhos pequenos. A esposa tem em suas mãos o ganha-pão da família: através do @Mama_semfiltro, ela mostra o dia a dia "nu e cru" da maternidade, e é quase a líder de um movimento de mães que querem expor e reconhecer suas dores.


Emmy recebe produtos de graça e nunca os usa, faz parcerias com marcas que não têm nada a ver com ela e arrasta seu marido e filhos para eventos que fogem completamente de seus desejos e identidades.


Contudo, "A Influencer" não é apenas um livro sobre a maternidade. O fato é que este acaba sendo um tema secundário, às sombras das críticas escancaradas ao real x virtual. Quando Dan tem voz nas páginas, ele usa de Filosofia para expor sua insatisfação com a vida que vivem.


Por se tratar de um thriller e, como a própria capa diz, há alguém à espreita. Esse fator surpresa que envolve um bom mistério torna toda a questão dos perigos da internet ainda mais evidentes.


Imagem da capa espanhola de “A Influencer” | Créditos de imagem: Trini Vergara Ediciones/Motus

E é de toda a exposição que Emmy vive, mostrando os perrengues de noites sem dormir por causa de um recém-nascido, ou uma casa tão abarrotada de brinquedos que é impossível andar sem tropeçar. Exceto que nada disso é real. Emmy comercializou a maternidade desde o início, e cada passo é calculado, montado para as fotos e para as legendas perfeitas.


A "Instamãe" e sua vida artificial, imperfeitamente perfeita, lançam luz sobre uma temática polêmica da mais contemporânea atualidade: a forma como muitos influenciadores usam os filhos como "produtos" ou nichos específicos para chamar atenção e lucrar na internet.


São dezenas de vídeos acompanhando a rotina do bebê, publis bem estruturadas com as crianças, contas prontas no Instagram mesmo antes de o bebê nascer, marcas e coleções com o nome da criança, produtos que curam uma dor da mãe influenciadora e prometem curar das mães do outro lado das telas (mesmo que custem pequenas fortunas pelas quais a maioria não pode pagar)...


Nada impede, é claro, que algumas dessas ações sejam genuínas. No entanto, o fato é que as "instamães" podem, mesmo com seus discursos artificiais, pré-moldados, ajudar ou atrapalhar as mães da vida real.


Falar sobre amamentação, o puerpério, o cansaço emocional e as dificuldades de ser mãe é, sem dúvidas, uma conquista para as mulheres. Encontrar, na imensidão da internet, uma rede de apoio que respalde os sentimentos e vivências da mãe é uma sorte com a qual as mulheres não contavam dez, quinze anos atrás. Os tabus, que existem ainda hoje, eram sufocantes, e a falta de informação corroborava uma culpa desnecessária das mães, que não conseguiam ser super-heroínas.


No entanto, o cenário da maternidade escancarada pelas celebridades e influenciadoras gera a clássica comparação, o medo de não chegar aos pés, a dependência crítica do respaldo daquela "instamãe" específica — como mostrado duramente em "A Influencer".


As 384 páginas do livro deixam claro que a sociedade contemporânea é patologicamente dependente de ídolos virtuais que vivem a vida perfeita — mesmo que, como a de Emmy, aparente ser imperfeita — e ostentam seguidores, prestígio e um tom de autoridade que não lhes pertence.


O questionamento que "A Influencer" deixa, de cara, é: como sociedade, ainda temos salvação? Quão profundamente imersos estamos na cultura de repetir os gestos dos influenciadores, mesmo em nossas relações intra e interpessoais, a ponto de mudar nossos próprios comportamento e personalidade?








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