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  • Foto do escritorRafaela Maciel

O papel da mulher na sociedade atual

Entre a jornada dupla de trabalho, cuidados com a casa e filhos, a mulher moderna enfrenta muitos desafios na atual sociedade, como machismo, sexismo, desigualdade e violência.




Em 1500, os portugueses invadem o Brasil. Vários homens, há meses presos em um navio, sem mulheres. E, quando chegam, encontram as mulheres indígenas. Sua primeira reação é estuprá-las. A frase “meu avô caçou minha avó no laço”, nada mais é do que uma forma de suavizar sequestro, violência e estupro. Objetificando a mulher como uma “coisa” a ser conquistada.


Há muitos séculos, as mulheres são conhecidas como propriedades de alguém. Na era vitoriana, mesmo a Rainha da Inglaterra sendo uma mulher reinante, o gênero feminino não poderia assumir as posses deixadas pelo pai ou marido, que eram passadas ao parente homem mais próximo. Isso é retratado em alguns romances, como o clássico escrito por Jane Austen, “Orgulho e preconceito”, que fala sobre a família Bennet, cujas filhas são todas mulheres e, quando o pai morrer, ficarão reféns da vontade do parente masculino mais próximo.


No século XIX, no Brasil, uma mulher precisaria da permissão do pai, irmão, tio ou avô para se casar. Dificilmente por amor, dificilmente com um homem que elas conheciam ou que sequer teria uma idade próxima a delas e, muitas vezes, sendo trocadas por terras, dotes e alianças políticas.


As mulheres escravizadas foram abusadas e violentadas constantemente. Sendo estupradas por senhores de engenho, os filhos deles, os capitães da mata e muitos outros homens. Como se o seu corpo fosse um objeto para ser usado.


Na Índia, o casamento infantil é praticado até os dias de hoje, sobretudo em áreas rurais. Onde uma menina de 8 anos é vendida para um homem de 40 anos, para ser “sua esposa”. O que acaba em traumas, estupro, violência, pedofilia e, muitas vezes, na morte da criança. Mesmo com a lei proibindo, é uma prática recorrente. E outro exemplo de que a lei não ajuda tanto assim é o Egito, onde mulheres são constantemente mutiladas, tendo suas partes íntimas cortadas.


Apenas recentemente completaram-se 90 anos do direito da mulher ao voto. Um direito sofrido. No Afeganistão, o grupo extremista do Talibã tomou o poder, e o desespero e histeria das mulheres foi geral. Não à toa, uma vez que perderam direitos básicos, como a roupa que escolhem usar, o direito de andar sozinhas pelas ruas e o direito sobre suas próprias vidas. Mesmo com o novo regime afirmando que permitirá que elas continuem trabalhando e estudando, o medo de ser apenas uma desculpa para capturá-las ainda impera.


Então, qual o papel da mulher na sociedade atual? Na sociedade moderna brasileira, com muita luta, protestos, paralisações, greves e votações, passou a ser permitido que a mulher more sozinha, trabalhe, estude, tenha acesso às redes sociais e seja dona de si mesma (com algumas ressalvas).


Os avanços femininos, ainda que poucos, são extremamente importantes. Há não muito tempo, o Brasil elegeu sua primeira presidente mulher. Um estudo realizado pela Grant Thornton em 2021 aponta que 38% dos cargos de liderança do Brasil são ocupados por mulheres, dados que, mesmo que baixos, são significativos.


A mulher brasileira precisa estar constantemente se provando capaz. Provando que está apta para o cargo, apta para ser mãe, apta para estudar, apta para concorrer. A luta por aprovação é tão constante como a quantidade de questionamentos.


Em entrevistas de emprego, as perguntas comumente feitas apenas para mulheres são: “você tem filhos?” e, para casos afirmativos “com quem eles ficam?”, que geralmente não são feitas para os homens que também são pais.


A dupla jornada da mulher é extremamente cansativa: estudo divulgado em 2017 pelo Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada (Ipea) aponta que a mulher trabalha 7,5 horas a mais por dia se comparada ao homem.


Isso se dá porque, além do trabalho profissional, também é responsável pelo trabalho familiar. É do senso comum deixar a responsabilidade do lar apenas para a mulher: é ela quem vai educar as crianças, limpar e organizar a casa, cozinhar todos os dias e, ainda, ser agradável para o marido.


Até mesmo em novelas e séries, é normal a mulher estar servindo a mesa ou lavando a louça depois de um dia de trabalho, enquanto seu marido está sentado assistindo televisão, lendo o jornal ou trabalhando de casa.


Em 1950, essa conduta era amplamente divulgada: as mulheres deviam ser boas donas de casa, boas mães e boas esposas. O trabalho feminino não era incentivado, salvo, é claro, as mulheres de classe baixa, que precisavam trabalhar para manter o sustento da casa.


Porém, no século XXI, essa responsabilidade é uma sobrecarga gigante sobre a mulher. Ela se torna responsável exclusivamente pelos deveres da casa e, ainda assim, precisa trabalhar. O parceiro muitas vezes não faz sua parte no serviço doméstico, acreditando que sua função é apenas profissional e realizar as atividades domésticas é apenas “ajudar” a mulher.


A cobrança sobre a mulher se torna maior. Ela precisa ser a melhor no trabalho, mesmo que ganhe menos que o homem que está exercendo a mesma função. Ela também precisa ser a melhor mãe, a melhor esposa. Se uma mulher opta por não trabalhar é considerada preguiçosa. Se decide ter um emprego, é taxada de ser uma mãe desleixada. Dificilmente essa cobrança recai sobre os homens.


São muitas também as mães solo, que criam seus filhos sem os pais. Situação que faz sua responsabilidade aumentar drasticamente.


Entre os desafios da mulher moderna estão conciliar trabalho, estudos e o cuidado exclusivo do lar. Além disso, também estão presentes a luta e cuidado contra violência doméstica, sexual, verbal e psicológica constante.


Em 2015, com os aumentos da violência contra a mulher, foi criada a Lei do Feminicídio (13.104/2015), que considera crime a violência contra a mulher apenas por ódio e intolerância ao gênero:


"Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I - violência doméstica e familiar;

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.


A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:

I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;

II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;

III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima."



No Brasil, 1 a cada 4 mulheres relata ter sido vítima de violência. No mesmo ano de 2015, o governo brasileiro divulgou um estudo que afirma que mais de 70% da população de mulheres no Brasil sofrerá algum tipo de violência em sua vida.


A lei Maria da Penha, sancionada em 2006 com o intuito de proteger as mulheres das constantes ameaças e violências que sofrem. No entanto, mesmo com sua existência, o número de vítimas de violência doméstica, assédios e estupros continua a subir constantemente.


Infelizmente não há uma solução real para que esse ódio contra o gênero acabe. O movimento feminista luta por mais inclusão constantemente, pedindo por mais mulheres na política, por mais direitos femininos e mais liberdade. Mesmo assim, continua sofrendo diversos ataques, até mesmo praticado por outras mulheres. Em uma sociedade patriarcal, extremamente enraizada com costumes misóginos e machistas, é necessário que se tenha muita luta para maior conscientização dos direitos das mulheres.


Hoje, uma mulher, mesmo trabalhando e sendo dona de si, pode precisar da permissão do marido e do Estado para poder abortar ou retirar seu útero. Uma parte essencial do seu corpo deixa de pertencer somente a ela e fica, novamente, sob poder de terceiros, homens.


Além disso, os direitos conquistados pelas mulheres em nada diminui a objetificação de seus corpos. Cantoras como Anitta ou Luísa Sonza sofrem diversos ataques, seja pelo tipo de música que apresentam, sua maneira de se vestir ou como escolhem trabalhar.


Quando um caso de estupro acontece, é questionado com qual roupa a vítima estava usando, que horas estava na rua, o porquê de estar desacompanhada. O que proporciona o sentimento de que a culpa é da vítima. Quando o caso é exatamente o oposto.


A luta feminista persiste e deve se manter firme para que não aconteça em outros países o que aconteceu no Afeganistão, por exemplo, e para que não sejam revogados os direitos duramente conquistados.


Existir é uma constante batalha que a mulher moderna enfrenta todos os dias.








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