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O que é ser mulher?

Uma pergunta, infinitas respostas: "o que é ser mulher?". Filósofas tentam explicar, mas mulheres de todas as idades têm a própria definição do conceito.




mulher

substantivo feminino

1. pessoa do sexo feminino ou do gênero feminino.

2. o ser humano feminino, considerado em conjunto, ideal ou concretamente.

3. mulher-feita; adulta.

4. companheira conjugal; esposa.

5. amante; concubina.

6. uma mulher indeterminada ou de quem se fala; dona.

(Definições de Oxford Languages)





As filósofas explicam


De acordo com a filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908 - 1986), “não se nasce mulher, torna-se”.

A frase, popularizada em diversos meios, é uma das bases do pensamento de Beauvoir, que exprimia que as concepções e visões dos indivíduos eram construídas socialmente, partindo de um postulado de seu parceiro de longa data, Jean-Paul Sartre, conhecido como pai do existencialismo: “a existência precede a essência”, o que define, resumidamente, que o ser humano não tem, ao nascer, uma essência ou identidade definida, preestabelecida. Para alguns, no entanto, o existencialismo erra ao colocar a maioria das características humanas como escolhas.


Ainda assim, os atestados de Simone de Beauvoir combatiam a visão aceita como verdade definitiva na época — e, de certa forma, ainda hoje — de que a ausência de mulheres em espaços como a política e determinadas profissões, estabelecendo que isso se dava a partir das restrições sofridas em sociedade, que, historicamente, educava a mulher a se pensar como inferior, secundária ao homem, explicando a ideia por meio de três pontos: o primeiro, de que a mulher era ensinada a existir em função do homem, ou seja, satisfazê-lo no que fosse necessário; a segunda, de que a mulher era estimulada a buscar validação externa, sobretudo através de contratos sociais — nos quais ela já adentrava em desvantagem —, como o casamento; a terceira, de que o histórico de menos direitos garantidos à mulher já a colocavam em posição de menor influência pública e, de certa forma, conformismo.


Para ilustrar a ideia, a filósofa parte de uma comparação simples: a menina e a boneca.

Durante a infância, é comum que o primeiro brinquedo de uma menina seja uma boneca, que funciona, na construção da imagem de si mesma e do mundo, como uma ferramenta poderosa de identificação: a boneca ensina à mulher sobre ser manipulada, despida, arrumada, transformada, envaidecida, enquanto não age — e muito menos pensa — por si própria, o que já a condiciona a se objetificar e, portanto, considerar “normal” que o homem faça o mesmo, a objetifique, transformando-a em um acessório.



Créditos de imagem: Jack Nisberg/ Roger-Viollet

Mas, deixando brevemente de lado o extenso raciocínio postulado por Simone de Beauvoir, e partindo para a análise do pensamento de outra filósofa, a estadunidense Judith Butler, definir uma identidade específica para “mulher” não estaria exatamente ajudando a nivelar a posição social dos sujeitos, mas poderia — mesmo sem intenção — excluir indivíduos que não se enquadram nas exigências — sobretudo originadas da heteronormatividade —, o que revelaria a necessidade de tirar o foco da identidade e levá-lo para as relações hierárquicas, de poder, que contribuiriam exatamente para produzir e manter esses conceitos, teoria construída sobre bases foucaultianas, que afirmam que o poder não é uma entidade ou uma ideia, mas uma prática constante, um exercício concreto.



Créditos de imagem: Ullstein Bild/Getty Images

Diversas outras pensadoras escreveram suas visões e análises da posição da mulher na sociedade, todas respaldadas por conceitos da Filosofia e da Sociologia que não aprendemos nas escolas, mas podemos observar no dia a dia.


Foi assim que a De Mulher Para o Mundo reuniu sua equipe e as mulheres ao seu redor para responder à pergunta que iniciou este artigo: “o que é ser mulher?


"Provavelmente já tenha escutado de alguma roda masculina que infelizmente mulheres não vêm com manual de instruções. E eles estão certos. Nós mulheres precisaríamos vir com um manual para tentarmos entender a capacidade que encontramos para nos reinventar diante de dilemas em diferentes eixos ao longo do dia. Ser mulher é poder estar dentro da estatística de mais de 11 milhões de mães solo no Brasil, tendo que sozinha conciliar trabalho, com cuidar dos filhos, além de garantir a parte financeira da família, já que muitas não contam com a pensão garantida todo mês. Ser mulher é ter a necessidade da criação da Lei Maria da Penha, do vagão exclusivo nos transportes públicos para tentar fazermos nos sentirmos mais seguros na sociedade, afinal, no país a cada minuto 8 mulheres são agredidas, 5 casos de feminicídio são registrados a cada 7 horas. Mas, para a população, são apenas números, sempre somos as loucas da história. Ser mulher é ver a sociedade mudar adjetivos apesar das ações serem as mesmas, por exemplo, homem que fica com muitas mulheres é pegador, já a mulher que fica com muitos homens é vagabunda. O mais contraditório é que muitas das ofensas proferidas para mulheres acontecem de outras mulheres, sem um motivo aparente. Muito por um machismo estruturado e enraizado no país. Ser mulher é ser mais da metade da população, mas ainda sim ter apenas 4% da representação feminina em cargos de direção de grandes empresas, ainda assim recebendo valores inferiores. Ser mulher é não ter um conhecimento não reconhecido por ser uma ação popularmente masculina até a transformação de apenas um “oi” em um desejo de ficar e um beijo virar um contrato eterno. Enfim, não importa a idade, classe social, profissão, cor... Todas nós mulheres temos pelo menos uma história para contar de uma situação constrangedora, vivenciada apenas por ser mulher. Ser mulher machuca, mas transforma. Ser mulher é não desistir. Ser mulher é mostrar ao mundo que não importa qual profissão escolher ainda somos mulheres".

Gabriela Araújo, 22 anos, redatora da plataforma De Mulher Para o Mundo.


"Ser mulher é indefinível. Somos apresentadas a esse conceito muito cedo, mas nenhuma descrição é suficientemente abrangente. Somos ensinadas a seguir uma cartilha imaginária, que nem sequer foi elaborada por nós. Nossos comportamentos, nossas funções, até nossos corpos são definidos pelos outros, pela sociedade. Somos categorizadas, etiquetadas, caracterizadas e manipuladas de acordo com a situação, para ocupar papéis que nos são dados sem escolha. E as nossas escolhas, por sua vez, raramente são respeitadas. São diminuídas, questionadas, invalidadas. Crescemos acreditando que amizade verdadeira entre mulheres não existe, já que 'mulheres são falsas', desconhecendo completamente o conceito de sororidade. Somos ensinadas a idolatrar homens, a significar a figura masculina como exemplo, mas a nunca agir como eles. Mulher é mulher, mas tem que ser tudo em segredo. A menstruação deve ser secreta. As dores devem ser secretas. As paixões devem ser secretas. Os medos? Devem ser secretos. Ser mulher é uma infinidade de definições que não se aplicam como gerais. Porque ser mulher é indefinível".

Hellica Miranda, 21 anos, fundadora e editora-chefe da plataforma de Mulher Para o Mundo


"Ser mulher é saber que cada conquista sua é finita no sistema da sociedade. É saber que todo dia é dia de luta. É ser julgada pelo tamanho da roupa, a cor do batom, o corte do cabelo. Ser mulher é ser mãe ou não ser. É enfrentar dupla jornada. É receber menos que o colega apenas pelo seu gênero. Ser mulher é votar há apenas 90 anos. É ser chamada de louca, melancólica ou vitimista. Ser mulher é lutar todo dia, mas colocar um sorriso no rosto. É se provar todos os dias, a cada momento. É ser boa de briga, de abraço, de xingo e de carinho. Ser mulher é o perfume certo, o acessório certo, o voto consciente, a conquista de direitos. Ser mulher é vida, é ser a única capaz de trazer outra pessoa ao mundo. Ser mulher é ser dona de si, das suas escolhas, do seu caminho, das suas vontades. É saber que é capaz de ganhar o mundo e ao mesmo tempo querer apenas uma barra de chocolate. Ser mulher é luz, é foguete, é estrela. Ser mulher..."

Rafaela Maciel, 22 anos, redatora e Relações Públicas da plataforma De Mulher Para o Mundo.



“Ser mulher é ser força e superação todos os dias, já que vivemos numa sociedade que nos desvaloriza. Ser mulher é ser delicada e bruta, paciente e teimosa, determinada, decidida e sempre forte para ser ouvida e respeitada”

Hellen Caldas, 31 anos, curadora da editoria de Ciências & Saúde.


“Numa sociedade onde a intelectualidade e o posicionamento feminino são muitas vezes vistos como ameaça e tratados como inferiores, ser mulher é ser o resultado da soma entre coragem (para ser o que é) e força (para fazer como quiser)”

Carol Turquetti, 22 anos, curadora de conteúdo de Direito.



“De todas as coisas que englobam o ser feminino, a que mais me cativa é definitivamente nossa capacidade de receber algo e transformá-lo em maior e melhor. O que seria do mundo se as mulheres não tivessem a habilidade de mudar tudo, um pouquinho a cada dia que passa? Ser mulher é viver, todos os dias, o milagre da transformação"

Heluyssa Corrêa, 27 anos.


É ser alguém que tem que levantar da sua cama todo dia sabendo que tudo depende de você, que seu sucesso é seu, seu objetivo é seu, mas, quando você conseguir, todos vão aprontar para qualquer coisa, sorte, homem, sedução, MENOS o teu esforço e conquista. É aprender a ser independente desde pequena, a ser corajosa, a se defender, desde pequena, é achar o seu verdadeiro eu no meio de tantos ‘você não pode usar isso’, ‘ele só quer te usar’, ‘use roupas mais cobertas’, ‘sente como uma dama’, ‘uma moça tão bonita... Não pode ter este vocabulário’ ‘sorria para todos’. E, principalmente, é saber que, no meio de todo este caos, você não está sozinha, não é a única que acha isso e luta para isso acabar, não está fazendo drama, não é falta de homem, não é querer o protagonismo, é apenas querer ter o mesmo respeito e livre arbítrio que os homens

Giulia, 14 anos


“Ser mulher é lindo, é ser forte e delicada ao mesmo tempo, é sorrir e chorar ao mesmo tempo, é ser forte a ponto de trazer uma vida ao mundo, e dizer que está tudo bem. É se amar quando acorda todos os dias de manhã, é ter medo dos padrões que a sociedade impõe. É ser responsável, equilibrada e educada mesmo quando quer surtar. É ter medo de sair na rua sozinha ou de usar algum tipo de roupa pois pode ser pega. É trabalhar, estudar, assumir responsabilidades e transformar uma casa em um lar”

Amanda, 33 anos



“É estar o tempo todo esperando reconhecimento, é ter que estar sempre bonita para ser aceita pela sociedade e, se você não se rende a isso, é cafona e brega. Se preocupar com o que os outros vão pensar por causa dos pré-julgamentos que nos acompanham desde que nascemos. Enfim, ser mulher é mais difícil do que se imagina”

Cátia, 42 anos


“Ser mulher é maravilhoso, somos delicadas, vaidosas, mas não temos nada de sexo frágil. Somos muito fortes e guerreiras, conseguimos desempenhar vários papéis em um só dia. Vamos para o trabalho toda arrumada, e donas de si, cuidamos da casa, dos filhos, do marido, e dos amigos. Ser mulher é uma benção Divina!”

Alessandra, 51 anos



“Para mim, ser mulher é ter de se impor o tempo inteiro, ter de lutar por direitos básicos, por salários iguais, ter de provar o tempo todo que é competente no que faz. É ter de exigir respeito a todas as horas do dia e da noite, é ter de viver se explicando: por que essa roupa? Por que esse comportamento? Por que você acha que pode ser dona da sua vida, do seu corpo, como você ousa ser sujeito de sua vida? Pois ouso, ousamos e é assim que vai ser. Seguirei lutando”

Beatriz, 20 anos


“Ter o dom de descobrir o amor em várias formas, e a principal: ter o poder de gerar a única forma de amor verdadeiro”

Karina, 38 anos


“Ser mulher é ser delicada e ao mesmo tempo forte e ter liberdade de escolha e ter direito a voz e expressar tudo aquilo que ela sente”

Camila, 30 anos



“Ser mulher, pra mim, é ter liberdade de escolha, é ter força e coragem pra ser mil mulheres em uma só, que dá conta de tudo (casa, trabalho, filhos)”

Poliana, 53 anos


“Para mim, ser mulher é um conjunto de coisas. Passa pela criatividade, intuição, instinto, dedicação, sensibilidade, amorosidade e acolhimento”

Laís, 29 anos


“É se transformar diariamente frente às adversidades que a vida impõe. É ser doce, sensível, mas firme e forte quando necessário. É ser camaleoa!”

Vera, 48 anos


“É ter que ser forte, mesmo quando se está quebrada por dentro, é ser profissional, mãe, filha, amiga e tudo isso com naturalidade, porque amamos ser essa fortaleza cheia de amor, mesmo que às vezes a gente se sinta esgotada”

Cibely, 41 anos



“É a forma mais bela, amorosa e frágil de se ser e ao mesmo tempo é força, é garra e coragem mais poderosa que se poderia ser”

Terezinha, 45 anos


“Mulher é tudo. Que seria do mundo sem nós? É ter o dom da vida e lutar por ela a todo o momento e de várias formas”

Elaine, 51 anos


“Ser forte, determinada, buscar seu lugar no mundo. Não é o sexo frágil, é o sexo forte, que corre, luta e muitas vezes carrega suas famílias tanto de forma emocional como financeira. Mulheres são o ponto que une inteligência com desenvoltura, cuidado e força”

Nina, 24 anos


“É entender o: ‘Não se nasce mulher, torna-se mulher’ dito por Simone De Beauvoir. É ter medo todos os dias do inesperado e tentar estar sempre preparada para o que puder vir, é lutar pelo seu espaço e seu direito de ser protagonista da própria vida, ir contra os ideais inalcançáveis da sociedade e se perceber única. Ser mulher é uma experiência de luta diária”

Victoria, 17 anos



E para você? O que é ser mulher?




















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