Olga Benário: a grande revolucionária que lutou contra o nazismo
- De Mulher Para o Mundo
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Olga Benário nasceu judia em uma Alemanha que logo se tornaria nazista, ela lutou contra o facismo, foi presa, se apaixonou e casou com o brasileiro Luís Prestes e foi entregue aos nazistas pelo governo Vargas.

Primeiros anos
Olga Gutmann Benário Prestes nasceu na cidade de Munique, na Alemanha, no dia 12 de fevereiro de 1908. Filha de Eugenie Gutmann Benário e de Leo Benário, cresceu com uma excelente educação e com um senso de justiça apurado. Seu pai era um advogado renomado, que sempre ajudava quem precisava. Já sua mãe, Eugénie, vinha de uma família muito rica e judia; ela era uma dama na sociedade alemã antes da ascensão de Adolf Hitler.
A futura revolucionária cresceu com uma vida confortável e uma educação privilegiada. Aos 15 anos, ela se apaixonou por Otto Braun, um comunista declarado, e começou a se envolver com a causa. No mesmo ano, ela também se envolveu com o grupo clandestino 'Schwabing'.
Quando tinha 16 anos, saiu de casa, mudando-se para Berlim junto com seu namorado, Otto. A mudança ocorreu principalmente devido à pressão de sua mãe, que não gostava de ver a filha envolvida com os comunistas.
Em Berlim, atuou como secretária de Agitação e Propaganda da cidade. Sua função era lutar contra o crescimento das milícias de extrema-direita, principalmente o partido nazista de Hitler. Seu namorado era acusado de traição à pátria, e durante uma ação do grupo, Olga foi presa pela primeira vez. Era 1926 e ela foi acusada de agitação contra a República de Weimar, o primeiro governo alemão considerado uma república federal constitucional. Durante sua prisão, a jovem judia foi interrogada sobre Otto e não compartilhou nenhuma informação.
Passou a ser procurada pela justiça alemã em 1928, quando atacou a prisão de Moabit para resgatar Otto Braun, que estava preso na época. Sem saída, Olga buscou abrigo na União Soviética, onde concluiu seus estudos sobre marxismo. Durante seu período em Moscou, também recebeu treinamento militar, prática que defendia há muitos anos. Foi graças à sua perícia no treinamento e sua inteligência que recebeu a importante missão de ser responsável pela segurança de Luiz Carlos Prestes, político comunista brasileiro e seu futuro marido.
O casamento e a causa no Brasil

Luís Carlos Prestes tinha seu nome conhecido em todos os lugares devido à sua luta armada contra as tropas do governo de Arthur Bernardes. Ele era um militar e político gaúcho. Nos anos de 1924 e 1927, ele e a Coluna Prestes (um grupo de 1500 homens) percorreram mais de 25 mil quilômetros no interior brasileiro, denunciando o governo de Bernardes, conhecido pelo seu autoritarismo. Nunca sofreu nenhuma derrota, desmontando sua coluna em 1927 e mudando-se para Moscou.
Foi durante o retorno de Luís Prestes ao Brasil que ele e Olga se conheceram. A jovem faria sua segurança para as terras brasileiras. Durante a missão, fingiram ser um casal recém-casado, mas a proximidade de ambos fez com que um sentimento verdadeiro surgisse. Os dois se casaram de verdade no mesmo ano. Luís, no entanto, foi acusado de vir ao Brasil para organizar o movimento revolucionário contra o atual governo de Getúlio Vargas.
Na realidade, Luís não era bem visto, graças à vitória de sua coluna e também ao partido ao qual era afiliado: PCB (Partido Comunista do Brasil). No partido, Luís assumiu o posto de presidente de honra do ANL (Aliança Nacional Libertadora - Movimento Antifascista).
Intentona Comunista

O novo movimento de Prestes ficou conhecido como “Intentona Comunista”. Tratava-se de uma tentativa de golpe de Estado contra o governo Vargas, ocorrida no ano de 1935, com a participação de civis e militares que faziam parte da Aliança Nacional Libertadora (ANL). O levante teve início em novembro, mas foi mal planejado e sua execução foi desastrosa, culminando na perseguição de Olga e Luís.
No entanto, o nome “Intentona Comunista” foi dado um ano depois, durante as comemorações do primeiro ano da Era Vargas, nomeado inclusive pelo governo vigente.
A filha do casal, Anita Leocádia Prestes, acredita que o golpe nunca aconteceu de fato e que não passava de uma desculpa do governo para perseguir o partido comunista e derrubar seus pais. Além disso, em 1937, o governo Vargas instaurou uma ditadura, intensificando ainda mais a perseguição à esquerda e chegando a manter relações com o governo nazista de Hitler na Alemanha.
Expulsão do país

A perseguição ao casal Prestes aumentou no final de 1935. No ano seguinte, em 1936, ambos foram presos, junto com colegas, e passaram por todos os tipos de interrogatórios e torturas. Olga se recusou a fornecer qualquer informação para o governo ditador de Vargas, que decidiu entregá-la como presente ao líder do nazismo, Hitler.
Era setembro de 1936, e Olga Benário Prestes estava grávida de 7 meses. A lei da época garantia que uma mulher grávida de uma criança brasileira não poderia ser extraditada. Mesmo assim, o Superior Tribunal Federal emitiu a ordem de deportação. Olga foi mandada de volta para a Alemanha no dia 23 de setembro do mesmo ano. Sendo judia e enviada para uma Alemanha nazista, era sabido que sua volta seria impossível. Foi extraditada durante a noite, para evitar comoção pública. Durante sua viagem, uma amiga também foi deportada com ela.
Olga foi recebida pela Gestapo (a polícia secreta nazista) no dia 18 de outubro de 1936, em Hamburgo, Alemanha. De lá, foi transferida para a prisão Barnimstrasse, em Berlim. Sua filha com Luiz Prestes nasceu no dia 27 de novembro de 1936 e recebeu o nome de Anita Leocádia Prestes. A criança permaneceu com a mãe no campo de concentração por 1 ano e 2 meses.
Inicialmente, não se sabia o destino da pequena brasileira: se iria para um orfanato ou seria executada pelos nazistas junto com sua mãe. No entanto, a avó paterna de Anita organizou um movimento para conseguir que a neta fosse enviada de volta para o Brasil. Graças à grande pressão internacional, liderada por Maria Leocádia Felizardo Prestes, mãe de Luís Prestes, Anita foi devolvida para a família paterna, ficando sob os cuidados da avó e das tias, já que seu pai estava preso no Brasil.
Olga Benário continuou presa na Alemanha nazista, sendo forçada a trocar de campo de concentração. Ela esteve em Lichtenburg, Ravensbrück e Bernburg, passando por trabalhos forçados, fome, doenças, espancamentos e todos os tipos de torturas impostos aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Em abril de 1942, três anos antes do fim da Segunda Guerra Mundial e seis anos após sua prisão na Alemanha, Olga Benario, judia, revolucionária, comunista, estrategista, mãe, filha e esposa, foi executada na horrível câmara de gás. Sua família no Brasil tinha esperança de reencontrá-la viva, mas somente em 1945, com o fim da guerra e a derrota da Alemanha, receberam a notícia da morte de Olga.
Anita Leocádia Prestes
Anita, hoje química e historiadora, mantém viva a história de seus pais, sempre concedendo entrevistas e discutindo a luta de ambos. Ela guarda como lembrança de sua mãe apenas algumas cartas escritas por Olga para o marido Luís, onde ela descrevia a beleza de sua filha, seus olhos azuis brilhantes, e expressava a certeza de que ela teria muito orgulho da luta dos pais.
Quando foi resgatada pela avó e pela tia, Anita não permaneceu por muito tempo no Brasil, vivendo no México, que acolhia pessoas exiladas de seus países de origem. Aos 9 anos, no ano de 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo, governo ditatorial de Getúlio Vargas, ela finalmente conheceu seu pai, Luís Prestes, que havia estado preso todos esses anos.
Anita não costuma se referir a si mesma como alguém traumatizado que teve sua infância roubada. Ela sempre enaltece a luta de seus pais e o amor de sua família. Como filha de militantes comunistas e criada em uma família com ideais comunistas, ela enfrentou represálias, foi perseguida e presa durante o regime militar no Brasil (1964-1985). Anita conseguiu escapar da prisão e fugiu para a União Soviética, onde obteve o título de doutora em Economia e Filosofia pelo Instituto de Ciências Sociais de Moscou. Foi anistiada em 1979, permitindo seu retorno ao Brasil.
Filme
"Olga" é um filme brasileiro dirigido por Jayme Monjardim e lançado em 2004. O filme é uma adaptação do livro homônimo de Fernando Morais, que narra a vida da revolucionária alemã Olga Benário Prestes.
A história se passa na década de 1930 e retrata a participação de Olga na luta comunista, seu relacionamento com Luís Carlos Prestes e sua deportação para a Alemanha nazista, onde enfrenta prisão e a tragédia de ser enviada para uma câmara de gás.
O filme destaca a força e o comprometimento de Olga com suas convicções políticas, bem como os desafios e perseguições que enfrentou durante sua vida. "Olga" recebeu elogios pela atuação de Camila Morgado, que interpretou o papel-título, e por sua abordagem emocionante e histórica.
A produção está disponível no catálogo Globoplay.
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