top of page
  • Foto do escritorRafaela Maciel

Outubro Rosa: a importância de políticas públicas para o tratamento do câncer de mama

Durante o mês de outubro acontece a campanha do outubro rosa, voltada para o combate ao câncer de mama.



O câncer de mama é o câncer que mais mata mulheres no Brasil, atingindo principalmente mulheres a partir de 50 anos, sendo que se diagnosticado precocemente, existe até 95% de chance de cura. A De Mulher Para o Mundo conversou com a médica oncologista Danielle Laperche, CRM 12238, que atua em Goiânia - GO.


Mulher de cabelos pretos, usando camisa branca e frase escrita "você não é sua doença".
Dra. Danielle Laperche

A doutora explica um pouco sobre o tratamento: “O tratamento do câncer de mama, não é um único tratamento, porque quando a gente fala em câncer de mama a gente não está falando de uma única doença, tá? É um nome genérico para várias doenças e como são várias doenças a gente tem que avaliar diversas características e diferenciar cada subtipo da doença. Entender o tamanho da doença em cada paciente e entender como é cada paciente para a gente estabelecer a melhor ordem de tratamento.”


Tipos de câncer de mama


Banner da campanha de outubro rosa, com laço rosa e frase sobre a prevenção.


Entre os tipos de câncer de mama, existe uma divisão entre os mais comuns e os mais raros. O carcinoma ductal, carcinoma lobular e tecidos conjuntivos fazem parte do grupo de cânceres mais comuns.


Carcinoma ductal - também chamado de infiltrante, ele se forma dentro do revestimento de um ducto de leite, dentro da mama. Se ele permanecer dentro dos ductos, pode se tornar um câncer não invasivo, agora se ele sair, pode se espalhar pelo corpo.


Carcinoma Lobular - é o segundo tipo de câncer mais comum, estando relacionado ao câncer de ovário e ao perigo de atingir a segunda mama. Quando não é invasivo também pode ser chamado de neoplasia lobular, daí é considerado apenas uma mudança nas mamas, não um câncer.


Tecidos conjuntivos - o câncer que começa nos tecidos conjuntivos é nomeado como sarcoma, angiossarcoma ou tumor. Raramente o tipo de câncer de mama começa no tecido conjuntivo.


Já os cânceres de mama mais raros são compostos por:


Câncer de mama inflamatório - um tipo raro que representa de 1% a 3% do câncer de mama, infelizmente, esse tipo de câncer já está disseminado no diagnóstico, o que torna o tratamento muito mais complicado.


Doença de Paget - ele começa nos ductos mamários e se espalha para o mamilo, atinge cerca de 1% das mulheres. Tumor filóide - se trata de um nódulo duro de tecido que pode aparecer em qualquer parte

da mama, é extremamente raro.


Angiossarcoma - é um tipo de câncer derivado de uma complicação muito rara ocasionada pela radioterapia. Raramente surge nas mamas.


Câncer de mama em homens - muito raro, mas pode vir a acometer 1% da população masculina, as causas variam, sendo mais aceita a genética como culpada.




Câncer de mama em pessoas trans




Pessoas trans que retiram as mamas não estão livres do câncer de mama, principalmente se existe uma mutação genética de alto risco. Apesar de ser uma condição rara, o risco não é 100% descartado, já que existem tecidos mamários nos prolongamentos axilares.


“Olha, é bem mais raro, mais difícil… mas a gente nunca zera o risco de câncer de mama por conta de um aspecto: com a mastectomia, por exemplo, quando a gente faz em mulheres, uma redutora de risco, uma paciente que tem uma mutação e que eu tiro a mama, a gente tem uma redução de 85% do risco dela, mas eu não tenho uma redução de 100%, porque ainda existe um resquício de tecido mamário que fica próxima axila, que pode ficar ainda próxima à parte central.”, a oncologista explica, “porque para retirar tudo, a cirurgia teria que ter 1° de mutilação, que não é compatível. Não é aceitável, entendeu?” , finaliza a doutora Danielle.


Homens trans que realizaram a mastectomia bilateral devem ser incentivados a realizar o autoexame, para detectar qualquer alteração na região do peito. “É uma situação que fica muito mais fácil de ser avaliada, né? Porque a palpação funciona melhor porque fica um tecido mais plano.”, comenta a especialista.


Se for identificado alguma anormalidade, a ultrassonografia pode ser realizada.


Grupo de risco


“O risco para ter câncer de mama é ser mulher, pronto, qualquer mulher tem risco de câncer de mama.”, a oncologista explica que existem vários fatores que aumentam a probabilidade do câncer de mama, mas que o principal risco é ser mulher “Os fatores de risco principais relacionados a câncer de mama é o consumo regular de álcool, o sobrepeso e obesidade, sedentarismo…”


A doutora também explica que com a tendência das mulheres a engravidarem de maneira tardia, ocasionando em um menor número de gestações e de amamentação, também se torna um agravante, já que isso gera um impacto hormonal no corpo feminino.


“O uso de hormônios exógenos, anticoncepcionais e outros outros hormônios com ação no tecido mamário, podem contribuir para aumentar esse risco. Todas as situações envolvidas de ato de vida e dessas questões reprodutivas.” , a doutora Danielle Laperche também cita o uso prolongado do anticoncepcional como um fator de risco: “nós já temos estudos que ele pode aumentar um pouco o risco de câncer de mama. Um exemplo é a prevenção de uma gestação em cima disso e o paciente tem muitos fatores de risco associados. Às vezes ela tem até conhecimento de uma mutação genética. Nós buscamos formas de contracepção, sem hormônios, então a gente tem que buscar algumas estratégias, porque ele pode sim contribuir. O uso prolongado de de qualquer hormônio pode contribuir, porque ele é derivado de estrogênio e progesterona. Ele pode ter uma ação na mama que pode culminar com aumento do risco do câncer.”, finaliza.


Amamentação, gravidez e câncer de mama


A mulher que realiza a retirada das duas mamas, mesmo que seja feita a reconstrução de ambas, não consegue amamentar, pois o tecido mamário foi retirado de seu corpo. Agora a mulher que retirou apenas uma das mamas, pode sim oferecer seu leite ao seu bebê e a doutora Danielle explica um pouco mais sobre essa condição:


“Tudo depende do tratamento que ela está. Se a paciente já concluiu todo o tratamento dela, não toma nenhuma hormonioterapia” . A hormonioterapia são bloqueadores hormonais usados no tratamento do câncer de mama, a doutora continua: “Se ela não toma nenhum hormonioterapia, não toma mais nenhuma medicação, se tem mais segurança hoje em liberar amamentação”.


Também existe um cuidado com mulheres de faixa etária já avançada com o desejo de viver uma gestação, em algumas situações, quando o câncer não está avançado e depois de muitas avaliações, o médico decide interromper o tratamento ou já finalizar ele, para que essa mulher viva o sonho da gravidez.


“Se a mulher já tem uma faixa etária que a gente sabe que as chances de gravidez dela vão ser baixas e se nós temos segurança de interromper o tratamento para a mulher ter a gravidez, vamos fazer isso.”, a oncologista comenta que nesse caso é discutido se vai ser possível aguardar também o tempo da amamentação para retornar com a medicação, “Seria muito tempo dessa mulher sem tratamento e então ela retoma o tratamento depois que ela tem o bebê. E nessas situações, porque essas medicações podem passar pelo leite e realmente prejudicar a criança. Então tem que ser uma coisa muito discutida.”.


A especialista também explica que a interrupção do tratamento não é possível para todas as pacientes, já que cada mulher é um caso específico. Para a interrupção ou finalização do tratamento, é necessário diversas avaliações e deve se levar em consideração o fator de risco, de quanto tempo essa mulher pode ficar sem a medicação e se isso não traria riscos a sua vida.


Tempo de tratamento, genética e idade


Apesar de existir uma taxa de 95% de cura, caso o câncer de mama seja diagnosticado precocemente, o tratamento pode durar até 10 anos, “a gente tem que ver realmente o tipo do tumor, tá? Esses tratamentos mais prolongados são principalmente relacionados aos tumores que são dependentes de hormônio. Porque a gente faz esse bloqueio hormonal muito prolongado.”, a doutora comenta que o tempo de medicação foi progredindo com o tempo, inicialmente as hormonioterapias duravam poucos anos, depois passou para 5 anos, depois 7 anos e agora 10 anos. O tratamento é mais longo porque ele traz mais benefícios à saúde: "tudo depende do triplo tumor, tá? E da situação do diagnóstico inicial, porque também há tumores mais iniciais. Então essa individualização, que é a chave. A gente não tem como falar a duração, né? Para cada caso é uma duração.”


Sobre a questão hereditária a doutora Danielle comenta: “O que hoje temos feito é uma triagem dos casos que tem mais chances de estarem relacionados à imunidade. Isso quer dizer que a paciente já nasceu com o gene que aumenta as chances dela ter o câncer e nessas situações a gente faz uma testagem genética da paciente para saber se ela possui alguma mutação em determinados genes.” , a dra. explica que não são todas as mutações que tem a necessidade de retirar a mama, muitas vezes não é nem recomendado.


“Quando a paciente descobre a mutação, nós testamos os familiares primeiro. Muitas vezes acontece é como foi o caso da Angelina Jolie. Ela, a mãe dela tinha mutação já detectada e ela fez o teste e ela tinha a mesma mutação, então a Angelina tinha indicação para a retirada, porque o tipo da mutação dela trazia um risco de câncer de mama ao longo da vida que chegava a 85%. E ela optou pela cirurgia preventiva e retirada das mamas antes do surgimento de um tumor.”.


A oncologista Danielle Laperche explica que o tumor pode aparecer entre um exame e o outro e explica que hoje a cirurgia bilateral de maneira preventiva não vai zerar o risco de se ter o câncer, apenas reduzir a probabilidade. Além de ser uma cirurgia que tem suas consequências e não é uma cirurgia estética.


“Sabe, mas para os pacientes que têm mutação identificada, não quer dizer que existem casos de câncer na família, tá? Como quase 90% dos casos de câncer, a maioria não tem histórico familiar e a partir dali os filhos do paciente que teve um diagnóstico não são necessariamente futuros pacientes de câncer herdado.” Danielle finaliza: “A gente tem exames para fazer essa identificação e buscar se der algum gene relacionado, não tendo gene essa conduta é bem rara de ser adotada por por conta dessas questões que eu pontuei antes.”


O câncer de mama está relacionado com o envelhecimento nas mulheres, já que as células que vão se replicando por muitos anos, apresentam mais chances de falhas nessas divisões celulares. “o câncer de mama não mudou a história. Ele continua sendo um câncer que é a maior prevalência dele está por volta dos 60 anos. O câncer de mama em jovens corresponde a 5% dos casos totais de câncer. O problema é que eles são muito marcantes, eles impactam mais, quando atingem pessoas mais novas”, explica a doutora.


Em 2021, a jovem atriz de apenas 21 anos, Miranda McKeon, da série da Netflix “Anne With an e” teve câncer de mama, sendo uma condição muito rara, que movimentou os fãs e a internet com preocupação. Hoje, graças ao diagnóstico precoce e um tratamento intensivo, ela está curada do câncer.


“A gente está tendo um aumento de casos de câncer em homens jovens, mas a imensa maioria dos acometidos pela doença são pessoas mais velhas, no caso do câncer de mama, mulheres mais velhas”, a doutora continua: “porque o câncer é uma doença que a gente pode colocar ele no grupo das doenças degenerativas e com o avançar da idade, essas falhas de correções de DNA, essas falhas de divisões celulares, elas vão ficando mais comuns com o envelhecimento. Justamente por isso o câncer aparece mais nessas faixas etárias”.


Prevenção e omissão dos governos


A Dra. Danielle Laperche explica que a melhor forma de prevenção é manter uma vida equilibrada e saudável, evitando o uso de álcool e cigarro, dando preferência para uma alimentação balanceada e sempre manter atividades físicas. Além disso, o diagnóstico precoce pode salvar vidas, sendo que quanto mais cedo o câncer for descoberto, menor é o tempo de tratamento e maior a chance de cura.


“No Brasil, nós temos hoje uma cobertura de mamografia de 30 a 100 mulheres, e é um número absurdamente baixo. Dessas, 30% que fazem mamografias regularmente, um percentual razoável de mulheres não busca o exame e sequer leva para algum médico para ser avaliado.”, a oncologista defende que a campanha do outubro rosa precisa ser mais longa e chegar a mais pessoas.“Muita gente acha que essas campanhas parecem não ser tão necessárias, falam que as mulheres já sabem, mas não é bem assim. A informação tem um papel fundamental para mudar essa história. Então, a gente precisa falar cada vez mais sobre esse assunto.”


Ela continua: “O autoexame é importante, mas ele não tem papel de diagnóstico precoce. Porque as lesões que a gente pega são grandes, a mão não tem poder de identificar lesões verdadeiramente pequenas, elas não são palpáveis na sua maioria. E o exame que tem o poder de detectar essas lesões bem iniciais é a mamografia. Então a gente realmente tem que difundir mais a realização de mamografias das mulheres a partir dos 40 anos.”


O orçamento para o ano de 2023 da campanha do outubro rosa foi reduzido em 45% no ano anterior pela antiga gestão, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.




Mesmo assim, o descaso com o tratamento do câncer de mama tem sido um problema crônico de muitos governos, por muitos anos. “A gente já está tendo um exemplo claro, as reconstruções mamárias das mulheres diagnosticadas. Nós temos uma carência de próteses disponíveis para essas reconstruções mamárias no Brasil inteiro, porque não existe um reajuste, uma adequação de valor dessas próteses a não sei quantos anos e isso não é reajustado e hoje a gente não tem fornecedores que queiram mais distribuir próteses para os serviços públicos. E os hospitais também não conseguem mais arcar com esse prejuízo que hoje está incalculável porque a tabela está com quase 20 anos defasada.” A situação é assustadora, considerando que o SUS é o maior sistema de saúde pública do mundo e poderia sim arcar com os valores. “Não temos acesso a medicação. O tratamento que a paciente do serviço privado recebe é completamente diferente do tratamento que a paciente do serviço público tem. Porque o acesso a diversas medicações não é possível ainda no serviço público. Então, a gente precisa discutir essas questões, trazer esses problemas é uma coisa extremamente importante.”, a doutora finaliza.


A oncologista também critica a má distribuição de médicos no Brasil:“Nós temos mamógrafos sobrando no Brasil, mas eles são super mal distribuídos. Eles estão a maioria concentrada em capitais e os pacientes do interior e pacientes de diversas regiões não conseguem sequer ter um contato com um especialista quando fazem o exame. Elas não têm para quem mostrar quando o exame tem uma operação, elas não conseguem fazer a biópsia. Então nós temos um problema gigantesco para se discutir nesse outubro rosa. A incidência de câncer de mama hoje no Brasil, se eu pegar uma mulher ao longo da vida, é de um caso a cada 8 mulheres. É um número alarmante, não é uma doença que alguém vai passar a vida sem ter contato com alguém que está passando por isso, porque 1 a cada 8 tem o câncer de mama e é quase impossível você não conhecer alguém que está em tratamento. Realmente o problema é gigantesco, ele não é pontual de agora, é um problema que não tem sido levado a sério, de forma organizada e sistemática nos governos dos últimos anos.”


O SUS tem sido sucateado a vários anos, principalmente nas últimas gestões, sendo um programa de importância nacional, a culpa não está nele e sim na mão dos governantes, que não fazem sua parte, não realizando repasses justos a área da saúde.


“A gente depende incrivelmente do SUS. Mas, por exemplo, nós temos medicações que já foram aprovadas pelos órgãos, mas daí até elas serem encontradas e estarem disponíveis no serviço demora. Anos e anos e toda a parte regulatória já foi aprovada, então existe uma falta de agilidade, uma falta de interesse e concretização do que já está aprovado gigantesca” , a doutora Danielle prossegue: A gente tem uma medicação que faz uma extrema diferença para as pacientes metastáticos e já foi toda aprovada, mas que não está disponível em nenhum serviço, então, uma briga hoje é o do por que que essas medicações não estão sendo disponibilizadas se elas já foram aprovadas? E as pacientes com câncer de mama, elas têm vivido uma negligência crônica dos governos nesse sentido. É tudo extremamente lento, moroso, até quando veem essas questões regulatórias. Demora uma vida, sabe? Então isso a gente precisa conversar muito. Para melhorar isso.


A vida não pode esperar, o melhor serviço de saúde pública do mundo não pode falhar.


Como identificar os sintomas




Os sintomas geralmente são de fácil visualização, como nódulos nos seios, inchaço nas mamas, secreção e pele de aspecto enrugado. O autoexame é simples: no chuveiro ou em frente a um espelho, toque com a mão em movimentos circulares toda a região da mama e axilas, procurando por caroços, nódulos mais duros ou qualquer anormalidade.




Na identificação de qualquer um desses sintomas, basta procurar com urgência qualquer unidade de pronto atendimento do SUS ou ir ao posto mais próximo. A mamografia é direito seu e pode ser solicitada de maneira totalmente gratuita pelo SUS.


Um toque pode salvar sua vida!


 

9 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page