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  • Foto do escritorHellica Miranda

Saltburn, as polêmicas e o teste de Bechdel

‘Saltburn’, de Emerald Fennell (Bela Vingança) é provocativo, mas tem falhas na construção.



Em sua estreia, com ‘Promising Young Woman’ (traduzido como ‘Bela Vingança’ para o português), em 2020, Emerald Fennell, diretora do longa, fez sucesso e criou expectativa.


Não para menos: o filme, protagonizado por Carey Mulligan, recebeu o Oscar de Melhor Roteiro Original, entre outros inúmeros reconhecimentos.


O filme segue Cassie, interpretada por Carey Mulligan, que apresenta uma personalidade apática e monótona durante o dia. No entanto, à noite, ela se transforma em uma justiceira, frequentando bares sem aparentar resistência e esperando que homens tentem se aproveitar dela. Quando estão prestes a agir, Cassie recupera sua compostura e decide ensiná-los uma lição. Uma crítica à cultura hook-up e à cultura do estupro.



Leia também: Machismo estrutural e cultura do estupro



A próxima obra de Fennell finalmente chegou, em 2023, no formato de ‘Saltburn’, um retrato ousado da juventude promissora e ao mesmo tempo decadente que está perdida entre comodismos e ambições.



Em ‘Saltburn’, nosso protagonista é Oliver Quick (Barry Keoghan), um calouro na faculdade de Oxford, onde se encontra solitário e desapontado.


A primeira guinada do filme se dá quando Oliver “acidentalmente” se torna amigo do popular Felix Catton (Jacob Elordi), um jovem de família abastada que leva o novo amigo à imensa propriedade da família, Saltburn, quando uma tragédia assola a vida de Oliver.



Muito embora a história só comece a se desenrolar, de fato, quando os personagens chegam a Saltburn, já é possível notar uma falha — talvez proposital, talvez não — da produção. 


O papel das mulheres é ridículo.


As garotas mostradas na universidade não passam de objetos nas mãos dos personagens masculinos, como Annabel, a namorada trada de Felix que quer atenção do rapaz tentando causar ciúmes com Oliver. Depois disso, ela nunca mais aparece.


Já em Saltburn, Oliver conhece a excêntrica família de Felix: Lady Elspeth (Rosamund Pike), Sir James (Richard E. Grant) e a irmã Venetia (Alison Oliver, estreante no cinema). Além deles, Saltburn abriga temporariamente “Poor Dear Pamela” (“pobre querida Pamela”, em tradução literal para o português), interpretada por Carey Mulligan, uma hóspede graças ao fracasso de um relacionamento amoroso.


Lady Elspeth é claramente uma socialite padrão, que finge certos níveis de empatia e caridade, mas que, de fato, só se importa com as aparências da família perfeita que constriu depois de sua juventude como modelo. Venetia, por sua vez, é o estereótipo perfeito da jovem desequilibrada: bebe muito, fuma exageradamente e chega a ser vulgar boa parte do tempo, provavelmente em uma tentativa paralela de, ao mesmo tempo, rebelar-se e pedir ajuda.


Inicialmente perdido em meio ao luxo e à luxúria dos jantares ostensivos e das festas sem limites, Oliver logo se adapta à realidade de Saltburn. Uma realidade que, cabe-se destacar, passa longe de ser aprovada no teste de Bechdel (o teste de Bechdel é um critério para avaliar a representação de mulheres em obras de ficção, como filmes. Para passar no teste, a obra precisa ter pelo menos duas personagens femininas que tenham uma conversa sobre algo que não envolva homens).



Criar ‘Saltburn’ levou Fennell a buscar inspirações em obras como “O morro dos ventos uivantes”, “The Go-Between” e “Rebecca”, além dos filmes ‘Laranja Mecânica’, e ‘Intenções Cruéis’. 


Tudo isso levou a uma mistura um pouco nojenta da representação humana, que se revela estereotipada ao extremo, obscura em contraste com a explosão de cores e texturas da propriedade dos Catton.


A crítica social do filme é bem recebida, uma vez que é absurdamente nítida (chegando a tornar-se obscena em certos pontos), mas, ainda assim, é mais um filme forte candidato à categoria cult que não representa com verossimilhança — ou sequer interesse — suas personagens femininas.


Quanto à questão técnica, ‘Saltburn’ é belíssimo. Alguns frames formam verdadeiras obras de arte, e o uso inteligente das cores como mensageiras não passa despercebido.


Grandioso, o filme de pouco mais de duas horas é eficaz em sua lição sobre ambição, desejo, obsessão e preconceito, tratando sem tabus todas as questões possíveis.



Faz-se necessário, no entanto, declarar que ‘Saltburn’ apresenta gatilhos psicológicos entre suas provocações, o que pode não ser positivo para muitos espectadores.


A jornada de ascensão de Oliver Quick e a decadência da propriedade Saltburn estão disponíveis no aplicativo de streaming Amazon Prime Video. 

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